O dossiê Os Estados Unidos em busca de uma Nova Guerra Fria: uma perspectiva socialista, do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, traz um estudo sobre o possível estabelecimento de uma cortina de ferro ao redor da Ásia, no que especialistas apresentam como uma suposta nova Guerra Fria.
A escalada dos Estados Unidos e seus aliados ocidentais contra a Rússia e a China é definida pelo historiador indiano Vijay Prashad como uma suposta “dor de curto prazo para ganho de longo prazo”.
Para ele, as elites norte-americanas estariam dispostas a tolerar falta de hegemonia nacional caso essa movimentação resulte manter a sua primazia, ameaçada pela integração eurasiana, conservada.
Até a guerra na Ucrânia, a ofensiva militar internacional dos Estados Unidos só havia atingido países em desenvolvimento e sem armamento nuclear, como é apontado pelo professor da Universidade Renmin da China John Ross, que destaca o bombardeio da Sérvia, em 1999, a invasão do Afeganistão, em 2001, do Iraque, em 2003, e o bombardeio da Líbia, em 2011.
Segundo os autores do dossiê, essa mudança de postura e a insistência norte-americana para que a Ucrânia passasse a integrar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) marca um embate direto do país com a Rússia, que também possui um arsenal nuclear, e forças militares de maior porte.
“O objetivo norte-americano na Ucrânia é justamente tentar trazer uma mudança fundamental na política russa e instalar um governo em Moscou que não defenda mais seus próprios interesses nacionais — e que seja hostil à China e subordinado aos Estados Unidos”, apontam.
A pesquisa também explica que a interferência de Washington nas políticas nacionais das nações se estende a Pequim, uma vez que o país tenta minar a política de “Uma só China” em relação à província de Taiwan, que tem sido “base das relações EUA-China” há cinco décadas, desde a visita de Richard Nixon ao país asiático em 1972.
Ruby Jennings
Estudo aponta uma cortina de ferro ao redor da Ásia, no que especialistas apresentam como uma suposta nova Guerra Fria
O cenário que é criado, então, para os autores, é um onde o país tenta compensar o seu declínio e a perda de sua predominância econômica global por meio do uso de sua força militar, que não perdeu a supremacia.
O belicismo norte-americano é encorajado, na visão da jornalista Deborah Veneziale, que também integra o dossiê, é “pelo fato de que, embora tenham invadido ou participado de operações militares em mais de cem países, nunca foi invadido ou experimentou baixas civis em larga escala nas mãos de governos estrangeiros”.
Os Estados Unidos e a corrida nuclear
Dentro do contexto da assinatura do Novo Tratado Estratégico de Redução de Armas, ou Novo START, há um atual cenário para a corrida nuclear. A quantidade de armas foi limitada, mas, ainda assim, não houve impedimento da modernização delas.
Os Estados Unidos em busca de uma Nova Guerra Fria: uma perspectiva socialista aponta que, nos últimos anos, tanto a Rússia quanto a China, foram capazes de avançar dentro dos campos de tecnologia e sistemas estratégicos de armas. Pequim e Moscou “recorreram a sistemas de armas estratégicas assimétricas projetadas para combater a superioridade dos Estados Unidos na defesa antimísseis e na mira de alta precisão”.
Para p professor norte-americano John Bellamy Foster, que apresenta um artigo no dossiê, o mundo “volta a sua atenção para a possibilidade de guerra entre as principais potências nucleares e toda a escala planetária da ameaça nuclear”, enquanto ignora, propositalmente, outra ameaça: o aquecimento global.
De acordo com ele, hoje enfrentamos “duas crises existenciais globais”, que ameaçam a espécie humana, causadas pelo mesmo agente: “o capitalismo e sua busca irracional por aumentar exponencialmente a acumulação de capital e o poder imperial em um ambiente global limitado”.