A projeção de queda do PIB (Produto Interno Bruto) da Colômbia para 2009 deve atingir em maior extensão os setores que mais contratam, como a indústria, o comércio e a agricultura, e com isso, o aumento do índice de desemprego é uma realidade, conforme avaliaram economistas colombianos para o Opera Mundi.
“Quem paga pela crise na Colômbia são os mais pobres”. A situação é clara para Arturo Cancino, economista e coordenador de Relações Internacionais da Universidade Central de Bogotá. A Colômbia, segundo ele, entrou tecnicamente em recessão e quem pagará o preço são os setores mais fracos.
De acordo com Alejandro Gaviria, da Faculdade de Economia da Universidade dos Andes, o problema é que o PIB se move de forma heterogênea. “Crescem a mineração e o setor dos hidrocarbonetos, o setor financeiro vai bem, mas a indústria cai, mais que em todas as décadas precedentes, e caem também a agricultura, os serviços e o comércio”.
Cancino concorda: “As quedas de 0,5% a 0,6% do PIB, como as dos últimos trimestres, ocultam mudanças mais radicais nos índices de crescimento por setores. Agricultura e indústria, que são os geradores de empregos, caíram muito mais. Enquanto isto é bem compensado no âmbito econômico, no âmbito social significa o aumento do desemprego. A crise pode parecer moderada para a Colômbia, mas no aspecto social trata-se provavelmente do país mais atingido da região.”
Segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional), de 2003 a 2008 o PIB colombiano cresceu bastante, mas um pouco abaixo da média regional, cerca de 5,3% ao ano, enquanto a América do Sul crescia em média 5,7% e países como Venezuela e Peru passavam de 7%. Estes avanços ocorreram, como é sabido, graças à bonança dos preços das commodities, devido à grande demanda das economias emergentes.
Agora, em meio à crise, o FMI prevê que o PIB poderá cair 0,3%, ante um recuo médio de 2,5% na América Latina.
Analisando os dados, um funcionário do Ministério da Fazenda ouvido pelo Opera Mundi rebateu dizendo que a Colômbia resistiu melhor do que seus vizinhos aos efeitos do forte choque externo.
Causas
Os dados do desemprego são claros: 2,5 milhões de pessoas estão sem trabalho na Colômbia, ou 13% da população ativa, e 58% do emprego é representado pelo trabalho informal.
“A questão do desemprego, que se manifesta claramente agora”, afirma Gaviria, “é um problema crônico e estrutural do país. O custo do trabalho na Colômbia é acentuado por impostos muito altos, enquanto o governo oferece muitas isenções fiscais para o acúmulo de capital e o investimento. É por causa desta distorção que atraímos investimentos intensos em capital e não em trabalho.”
A situação se agrava ainda mais por causa da crise com os países vizinhos. As vendas para a Venezuela despencaram 20% em julho e 50% em agosto, devido a problemas diplomáticos. Somado à queda das vendas para o Equador, isso faz com que o país dependa quase exclusivamente de exportações aos Estados Unidos. Cancino afirma que as exportações para a Venezuela geram três vezes mais valores agregados do que as vendas aos Estados Unidos, “porque exportamos manufaturas, e isto gera empregos industriais e de boa qualidade”.
“Além de Chávez e Correa, os problemas residem na decisão de concentrar nossas relações comerciais nos Estados Unidos, deixando de lado, por exemplo, a Comunidade Andina, um mercado fechado, onde seria possível vender nossa produção industrial. Para os Estados Unidos, exportamos só confecções e matérias-primas, pois nossas indústrias não podem competir naquele mercado”.
O economista acredita ainda que o país se salva por não ter um tratado de livre comércio com os norte-americanos, pois do contrário, também o mercado interno estaria em queda, graças ao peso supervalorizado e à entrada dos produtos estrangeiros.
Pobreza
O desemprego gera pobreza. Existe uma polêmica sobre os índices de pobreza do país desde quando o governo mudou a forma de medir esses valores, deixando, segundo os opositores, de mostrar os verdadeiros níveis do tema. Os dados oficiais falam de 46% de pobreza e de um coeficiente de Gini, da distribuição de renda, de 0,59. O primeiro número é um dos mais altos da América Latina e o último está entre os piores do mundo. E também a indigência, a pobreza extrema, subiu a quase 18%. A informação oficial corresponde ao primeiro semestre de 2008, antes do golpe mais forte da recessão e da crise.
Segundo Cancino, “com este governo, ocorre uma redistribuição regressiva da renda, aumentando a desigualdade e a pobreza. Os pobres não foram beneficiados de modo algum no momento do crescimento econômico”.
Gaviria pensa diferente: “A política do governo tem sido a de não se concentrar nos subsídios, mas alguns cresceram, como por exemplo, os das famílias em ação, um programa parecido com o brasileiro Bolsa Família. A verdade é que o aumento da indigência verificado agora se explica pelo aumento dos custos dos alimentos em 2007 e 2008, uma tendência mundial, relacionada ao tema dos biocombustíveis e à demanda chinesa.”
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