Documentos obtidos pela agência de notícias Associated Press revelam que o NYPD (Departamento de Polícia de Nova York, na sigla em inglês) possuía agentes infiltrados em encontros de organizações políticas e mantinha dossiês sobre a rotina de ativistas e militantes responsáveis pela articulação de protestos nos EUA.
Publicada na última sexta-feira (23/03), a apuração da AP teve acesso a documentos e entrevistas que mostram a forma como a polícia empregou estratégias de prevenção de ataques terroristas para monitorar atividades legais de expressão política.
Desde 2004, quando o NYPD iniciou a aplicação dessas táticas para garantir a segurança da convenção nacional do Partido Republicano contra volumosas multidões, foram monitorados grupos ambientalistas, organizações pacifistas e instituições religiosas. Os documentos revelam, contudo, que a espionagem prosseguiu até 2008, quatro anos após o fim do evento que lançou George W. Bush como candidato republicano à Presidência dos EUA.
Em réplica ao processo que tramita contra o NYPD sobre o tratamento de manifestantes durante a Convenção Republicana, David Cohen, comissário de inteligência da corporação, garante que “não houve vigilância política”, mas, sim, um “programa desenvolvido para determinar com precisão a probabilidade de atividades ilegais ou atos de violência” ao longo da convenção.
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Política nacional
Sob o argumento da “Guerra ao Terror”, o dossiê mostra que agentes de segurança pública de diversos pontos do país discriminaram grupos de oposição ao governo George Bush ausentes de qualquer histórico criminal.
O FBI coletou informações sobre manifestantes contrários às guerras do Iraque e do Afeganistão. A polícia do estado de Maryland se infiltrou nos encontros de grupos de oposião à pena de morte. No Missouri, especialistas em prevenção de ataques terroristas registraram a suspeita de que o congressista e atual pré-candidato à Presidência dos EUA pelo Partido Republicano Ron Paul estaria apoiando “milícias violentas”. E, no Texas, autoridades requereram extra-judicialmente o monitoramento de organizações de apoio à muçulmanos.
Occupy
Curiosamente, em meio ao auge dos protestos do movimento Occupy Wall Street os oficiais do principal departamento policial dos EUA pediram à autoridades que não produzissem material de inteligência sobre o grupo. Segundo documentos obtidos pelo site do tablóide Gawker, os oficiais acreditavam que “o tipo de manifestante do movimento Occupy Wall Street são em sua maioria mais engajados em atividades protegidas pela constituição”.
Antes dos ataques terroristas às Torres Gêmeas em setembro de 2001, a infiltração policial em grupos de discussão política era uma das possibilidades mais restritas do NYPD. Esse tipo de investigação só poderia ocorrer sob ordem judicial.
Reportando-se ao juiz federal relator do caso, o comissário David Cohen lembrou que, após os ataques, a polícia deve ser autorizada a abrir investigações antes que seja produzida evidência criminal. A corte concordou e flexibilizou as normas. Desde então, a polícia tem feito suspeitos de terrorismo todas as vizinhanças muçulmanas e comunidades de mesquitas.
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