Os médicos cubanos que atuavam em todo o estado de São Paulo começaram a deixar o Brasil na noite deste sábado (24/11). Ao todo, 406 profissionais voltaram a Cuba em dois voos comerciais que saíram do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
O restante dos profissionais irá regressar a Cuba entre este domingo (25/11) e a próxima segunda (26/11). Nos três dias em que as viagens irão ocorrer, mais de 1.400 médicos irão voltar para a ilha.
Tiago Angelo
Ao todo, 406 profissionais voltaram a Cuba em dois voos comerciais que saíram do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos
A saída dos cubanos do Mais Médicos foi definida no último dia 14 pelo governo de Cuba em resposta às declarações “ameaçadoras e depreciativas” feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro.
O futuro mandatário havia questionado a preparação dos médicos cubanos e afirmou que exigiria a validação do diploma dos profissionais. Segundo o Ministério da Saúde de Cuba, as mudanças assinaladas pelo novo governo brasileiro são “inaceitáveis”. Opera Mundi acompanhou a saída dos médicos.
“É uma lástima sair do Brasil, uma vez que a população brasileira, sobretudo os mais desprotegidos, vão precisar de médicos”, afirmou Abel Pupu del Río, membro do programa há dois anos e que atuava no município de Itapecerica da Serra.
Segundo ele, dos 21 médicos que trabalhavam na região, 19 eram cubanos. “O resto da UBS está agora desprotegida. Praticamente não tem médico agora. E os médicos que atendem só atendem na parte de adultos. Não atendem na parte de ginecologia e nem de pediatria”, explica.
Para ele, “Bolsonaro, desde o início – não só agora que ele ganhou para presidente -, ataca o programa. Desde o início da sua campanha ele prometeu mandar embora do Brasil os médicos cubanos”.
“O povo precisa de amor”
Maricela Martínez Gonzalez, que atuou no município de Ariranha, a 420 KM da capital de SP, conta que apenas três médicos trabalhavam na região. “Éramos duas médicas cubanas. Agora tem um médico brasileiro pelo programa Mais Médicos” para atender a cerca de 9.000 habitantes.
“Nos retiramos, mas com uma moral muito alta. Cada cubano que ficou aqui entregou o melhor de nós para este povo, sempre trabalhando com o coração, consciência, humildade e dando o melhor para todo esse povo”, afirma.
Segundo ela, “nós estamos orgulhosos por termos trabalhado com esta população carente, nesta população onde faltam médicos com amor. Porque o povo precisa de amor, precisa ser escutado. O que mais vocês precisam é de muito amor”.
O programa Mais Médicos foi criado em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff com objetivo de garantir assistência a comunidades desfavorecidas ou afastadas. A presença cubana foi estipulada por meio de um convênio com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Ao todo, a criação do programa levou profissionais da saúde para 3.228 municípios, dos quais 374 receberam médicos pela primeira vez na história. Segundo levantamento do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), ao menos 285 cidades e 36 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) ficarão sem médicos com a saída do contingente cubano.
O Ministério da Saúde do Brasil abriu um edital nesta semana para selecionar profissionais que irão substituir os cubanos. A medida, no entanto, é vista com desconfiança, uma vez que esta não é a primeira vez que o país tenta enviar médicos brasileiros para regiões remotas.
Em 2017, foi aberto um concurso para selecionar brasileiros para o Mais Médicos. Ao todo, 6.285 médicos se inscreveram para preencher 2.320 vagas. No entanto, apenas 1.626 se apresentaram para trabalhar. Destes, cerca de 30% deixaram seus postos antes de um ano de serviço.
Veja Vídeo: