Naquela tarde de 5 de março de 2013, chegava ao fim um capítulo da história da Venezuela e, ao mesmo tempo, tinha início outro. Sem a presença física de Hugo Chávez, por pouco mais de 14 anos no poder, o país agora se via sem seu líder e ideólogo de um movimento político inédito, que transformou profundamente a sociedade venezuelana. Começava ali um caminho de provas para o chavismo e, exatamente um ano depois, fica a pergunta: ele sobreviveu à morte do presidente?
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Opera Mundi foi às ruas da capital venezuelana para escutar, da população, algumas respostas. Conforme a localização na cidade, a opinião era completamente diferente. De fato, em Caracas, as posições políticas também são separadas pelo endereço. No leste, onde ficam os bairros mais ricos, há mais opositores, enquanto no oeste, mais humilde, chavistas.
Na Praça França, em Altamira, célebre reduto opositor na região leste da capital venezuelana, Héctor Hernández, de 33 anos, afirma que o único legado de Chávez “foi criar divisão no país, diferenciar as classes sociais”, sendo que um ano após sua morte, “o país continua pior”.
Perto dele, Andrés Castillo, de 26 anos, diz que o chavismo já não existia mais mesmo antes da morte do presidente e criticou o governo de Nicolás Maduro: “eles se escondem por trás dessa palavra para que as pessoas sigam acreditando em algo que já está morto”.
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Ao seu lado, Flor Blanco, de 28 anos, opina que o “chavismo sim sobreviveu, mas não os ideias de Chávez”, para depois criticar as medidas econômicas da atual administração. “Com Chávez, as massas não saíam dessa forma [às ruas] porque havia liquidez econômica também e as coisas funcionavam. Esse modelo de esquerda de Maduro nesses momentos não está funcionando”, diz.
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A alguns quilômetros dali, na Praça Bolívar, famoso bastião chavista no centro de Caracas, as visões eram distintas das do leste. Para Oswaldo Sánchez, de 55 anos, “o chavismo não é Chávez, porque se fosse Chávez, matar Chávez já era suficiente. O chavismo somos nós, o povo e isso jamais vai morrer”. Segundo o empresário, “todo o povo venezuelano é chavista, mas não por Hugo Chávez, mas pela liberdade, porque ama a liberdade”.
Wikicommons
Eleito em 1998, Hugo Chávez subiu à Presidência da Venezuela em 1999, para sair somente em março de 2013, quando faleceu
As gêmeas Indira e Oreana Romero, de 19 anos, concordam. De acordo com Indira, um dos maiores legados de Chávez é a “humanidade” do presidente. “Ele deixa algo emocional, um carinho profundo dentro das nossas veias”, explica. Estudantes da UNEARTE (Universidade Nacional Experimental das Artes), criada pelo chavismo em 2008, elas dizem que o acesso à educação universitária e outra conquista.
Oreana acredita que não há volta atrás no que foi conquistado desde a chegada de Chávez à Presidência, em 1998. “O chavismo deixou um grande valor (…) nos apoiou para crescer, para sermos boas pessoas, para reconhecermos o que temos, as fortalezas e debilidades, e com isso empreendermos novas expectativas, novos objetivos para nós mesmos. [O chavismo] sobreviveu e sobreviverá até que Deus queira”, conclui.