Um dia depois do final do período de cessar-fogo implementado de forma unilateral pelas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, criticou o governo do presidente Juan Manuel Santos por não aceitar a suspensão das operações militares de ambas as partes durante as negociações pela paz.
“O passo lógico seguinte seria um cessar-fogo bilateral. Essa medida daria confiança social ao processo de paz”, afirmou Petro, nesta segunda-feira (21/01), durante entrevista coletiva em São Paulo, onde participou de evento organizado pelo Instituto Lula.
Vitor Sion/Opera Mundi
Gustavo Petro elogiou o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, com quem se reuniu na manhã desta segunda-feira
Na opinião do prefeito, a suspensão das operações militares por 60 dias mostrou a boa vontade das FARC no diálogo de paz. “Já os meios de comunicação colombianos se concentraram em mostrar possíveis violações da medida”, lamentou.
Sobre o apoio da população às negociações por paz, Petro, que foi guerrilheiro e ficou preso por dois anos no final da década de 1980, indicou que o tema é polêmico e divide o país. “Muitos ainda defendem a proposta de Álvaro Uribe [ex-presidente colombiano] e querem o fim militar das FARC. Santos não se fortalece com o processo de paz, é um risco alto que ele está correndo”, argumentou.
Drogas
O prefeito de Bogotá, que disputou a última eleição presidencial na Colômbia, na qual ficou em quarto lugar com 9,13% dos votos, também destacou a importância de se realizar uma mesa de discussão específica sobre o tráfico de drogas para “articular o processo de paz com fatos e agendas da América Latina”. Na capital colombiana, Petro tenta implementar uma nova política em relação a maconha e cocaína, com a abertura de centros de consumo regulamentados pelo Estado.
“O narcotráfico incide em todos os setores da sociedade colombiana. É um problema supranacional e a solução também deve ser pensada dessa maneira. Por isso temos conversado muitos com as 65 cidades que já tentaram essa alternativa, principalmente a canadense Vancouver”.
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“Ainda estamos discutindo a possibilidade de abrir esses centro e já percebemos algumas reações das máfias que controlam o tráfico de drogas. Isso mostra que estaríamos no caminho certo, de fragilizar esses grupos”, acrescentou.
O político colombiano também criticou a internação compulsória de usuários de drogas, que entrou em vigor nesta segunda-feira no Estado de São Paulo. “A pior coisa que se pode fazer com o consumidor de drogas é retirar a sua liberdade”, analisou.
Além do evento organizado pelo Instituto Lula, Petro se reuniu na manhã de hoje com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). O colombiano se mostrou feliz com a vitória de Haddad nas eleições de 2012. “O triunfo de Haddad foi muito interessante, pois, até então, São Paulo resistia às experiências de esquerda do restante do Brasil”, argumentou.