Premiê do Canadá nega pressão ilegal para favorecer empresa; crise ameaça mandato de Trudeau

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou nesta quinta-feira (07/03) que não exerceu nenhum tipo de pressão ilegal sobre a ex-ministra da Justiça Jody Wilson-Raybold, que renunciou em fevereiro alegando que o mandatário tentou aliviar uma possível punição a uma empresa do país, que foi acusada de estar envolvida em atos de corrupção na Líbia.

Em função do escândalo, a oposição, guiada pelo Partido Conservador, passou a cobrar a renúncia de Trudeau, embora o país tenha eleições marcadas para 21 de outubro.

Em entrevista coletiva, Trudeau reconheceu erros de sua administração e afirmou que houve um “desgaste de confiança” no seu governo. “Eu não estava atento a esse desgaste de confiança e, como primeiro-ministro e chefe do Governo, eu deveria estar”, disse Trudeau.

Entretanto, o premiê negou a existência de qualquer ilegalidade no processo, afirmando que manteve conversas legítimas com Wilson-Raybould. “Se tratando de defender empregos e a integridade da lei, eu continuo a dizer que não houve pressão inapropriada”, afirmou.

Sobre a renúncia de Wilson-Raybould, Trudeau criticou a postura da ex-ministra, dizendo que ela deveria ter inciado diálogos com o governo. “Wilson-Raybould não se dirigiu a mim pessoalmente e gostaria que ela o tivesse feito. O diálogo é crucial em uma pasta como a da Justiça”, disse.

Acusações

A ex-ministra da Justiça acusa Trudeau e outros integrantes de alto escalão do governo de terem exercido pressão indevida durante meses para convencer a Procuradoria-Geral a oferecer um acordo favorável à SNC-Lavalin, uma das maiores construtoras canadenses, que é suspeita de corrupção em obras na Líbia. 

Baseada em Québec, a SNC-Lavalin emprega mais de 9.000 pessoas e também atua nos setores de óleo, gás, metalurgia e mineração. Se for condenada, a construtora ficará impedida de assinar contratos com o governo canadense por 10 anos.

Já no início desta semana, a presidente do Tesouro, Jane Philpott, também renunciou ao cargo afirmando que deveria seguir seus “valores e responsabilidades éticas”.

“Infelizmente, as evidências de esforços de políticos e oficiais para pressionar a ex-ministra da Justiça a intervir em um caso envolvendo a SNC-Lavalin levantaram sérias preocupações em mim”, justificou Philpott.

Crise no governo

Uma pesquisa realizada pelo instituto Ipsos entre os dias 01 e 04 de março coloca o Partido Liberal, de Trudeau, com apenas 31% das intenções de voto para as eleições de outubro, enquanto o Conservador surge com 40%, sua maior vantagem no atual ciclo eleitoral.

Além disso, dois terços dos entrevistados disseram que o primeiro-ministro perdeu a “autoridade moral” para governar. Nas últimas eleições, em 2015, Trudeau levou seu partido a conquistar 40% dos assentos no Parlamento.

*Com ANSA