O presidente da Itália, Sergio Mattarella, assinou nesta quinta-feira (21/07) o decreto que dissolve o Parlamento e convocou eleições antecipadas para 25 de setembro.
O documento foi sancionado após duas breves reuniões do chefe de Estado com os mandatários do Senado, Elisabetta Casellati, e da Câmara dos Deputados, Roberto Fico.
“Como comunicado oficialmente, assinei o decreto de dissolução para convocar novas eleições em até 70 dias, como previsto. A dissolução antecipada do Parlamento é sempre o último ato”, afirmou Mattarella.
Segundo o presidente, a renúncia do premiê Mario Draghi, que perdeu sua base de apoio no Parlamento, evidenciou a “falta de perspectiva para uma nova coalizão”.
As eleições ocorrerão cerca de seis meses antes do previsto, em um período do ano inédito para a Itália.
Desde que adotou o regime republicano, após a Segunda Guerra Mundial, o país nunca teve um pleito legislativo no segundo semestre, época geralmente dedicada às discussões da Lei Orçamentária para o ano seguinte.
“O Parlamento tem muitos compromissos importantes para concluir no interesse do país”, disse Mattarella, em um apelo para os partidos não obstruírem a tramitação de temas importantes, como o próprio orçamento e o Plano Nacional de Retomada e Resiliência (PNRR), projeto para utilizar os 191,5 bilhões de euros destinados à Itália pelo fundo da União Europeia para o pós-pandemia.
O governo Draghi já cumpriu metas referentes a 45 iniciativas, etapa necessária para receber um repasse de 24 bilhões de euros da UE. No entanto, o país terá de apresentar resultados em mais 55 projetos até o fim do ano para embolsar uma nova parcela.
“O governo está limitado em suas atividades, mas tem os instrumentos para operar antes da chegada do novo Executivo. Não é possível fazer paralisações no momento que estamos atravessando. Desejo que, apesar da intensa campanha eleitoral, todos deem uma contribuição positiva no interesse da Itália”, declarou Mattarella.
Crise
No poder desde fevereiro de 2021, Draghi renunciou após ter perdido sua base de apoio no Parlamento, mas seguirá no cargo para cuidar de assuntos correntes até a designação de um sucessor.
Os pivôs da crise são o partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), que cobrava do premiê um maior compromisso com políticas sociais, a ultranacionalista Liga e o conservador Força Itália (FI), que exigiam a saída do M5S da coalizão de união nacional.
As três legendas boicotaram um voto de confiança no Senado na última quarta-feira (20) e determinaram o fim do governo do ex-presidente do Banco Central Europeu, que ainda não confirmou se pretende se candidatar a algum cargo nas próximas eleições.
“Devemos estar muito orgulhosos pelo trabalho que fizemos. A Itália tem tudo para ser forte, respeitável e confiável no mundo”, disse Draghi durante uma reunião do Conselho dos Ministros.
“Levarei comigo lembranças muito belas dessas reuniões, das trocas que tive individualmente com vocês. Haverá tempo para as despedidas, agora vamos voltar ao trabalho”, acrescentou.
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Eleições antecipadas ocorrem em 25 de setembro
Intenções de voto
A pesquisa de intenção de voto mais recente mostra a legenda de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), liderada pela deputada Giorgia Meloni, com 23,8% da preferência, em situação de empate técnico com o Partido Democrático (PD), principal força de centro-esquerda no país, com 22,1%.
O levantamento foi realizado pelo instituto SWG com 1,2 mil eleitores entre 13 e 18 de julho, com margem de erro de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos.
Em terceiro lugar aparece a ultranacionalista Liga, de Matteo Salvini, com 14%, seguida pelo antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), com 11,2%, e pelo conservador Força Itália (FI), do ex-premiê Silvio Berlusconi, com 7,4%.
Esse cenário tem se repetido nas pesquisas ao longo dos últimos meses, com raras exceções em que o PD aparece numericamente à frente do FdI, porém sempre em empate técnico.
As eleições antecipadas de 25 de setembro devem provocar profundas mudanças no equilíbrio de forças no Parlamento, porém sem alterar o quadro de fragmentação partidária que marca a política italiana desde a década passada.
O mais afetado negativamente deve ser o M5S, que venceu o pleito de 2018 com cerca de 32% de votos, mas acabou penalizado por seus quatro anos de governo e hoje aparece apenas em quarto lugar nas pesquisas.
Ao longo da atual legislatura, o movimento governou tanto com a extrema direita quanto com a centro-esquerda e afastou, por um lado, os eleitores que viam no partido o surgimento de uma nova força progressista, e por outro, os que se encantaram por seu discurso antissistema e eurocético.
Para sacramentar sua era governista, o M5S ainda aceitou, em fevereiro de 2021, participar do gabinete de união nacional encabeçado por Mario Draghi, um símbolo do establishment europeu que o partido sempre jurou combater.
Essa inconstância provocou uma série de cisões no movimento, que perdeu dezenas de parlamentares e figuras históricas nos últimos anos, como o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, que abandonou a sigla em junho por discordar de sua posição contrária ao envio de armas à Ucrânia.
(*) Com Ansa.