Atualizada 13h56
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, confirmou pelo Twitter nesta terça-feira (30/07) que vai acionar o presidente Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal) para que esclareça em que condições o pai do advogado, Fernando Santa Cruz, foi morto pela ditadura.
“As sérias declarações concedidas pelo presidente da República, a respeito do desaparecimento de meu pai, devem ser esclarecidas. Irei ao STF tomar conhecimento das referidas respostas que Bolsonaro afirma ter sobre as circunstâncias de sua morte”. #FernandoSantaCruzVive
Na segunda (29/07), Bolsonaro havia dito que sabia as circunstâncias do desaparecimento de Fernando.
“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, declarou o presidente.
As sérias declarações concedidas pelo presidente da República, a respeito do desaparecimento de meu pai, devem ser esclarecidas. Irei ao STF tomar conhecimento das referidas respostas que Bolsonaro afirma ter sobre as circunstâncias de sua morte. #FernandoSantaCruzVive pic.twitter.com/vZbtEgrAo3
— Felipe Santa Cruz (@felipeoabrj) July 30, 2019
Segundo a jornalista Mônica Bergamo, os ex-presidentes da OAB irão assinar a interpelação que Felipe Santa Cruz encaminhará ao STF. O documento já foi assinado por Cezar Britto, Marcus Vinicius Coelho, Ophir Cavalcante, Marcelo Lavenére, Roberto Bausto, Reginaldo Oscar de Castro e Roberto Batochio.
Mentira de Bolsonaro
Em vídeo divulgado pelo Facebook nesta segunda, Bolsonaro voltou a falar sobre o tema e mentiu, dizendo que os responsáveis pela morte de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira foram os próprios militantes da Ação Popular. “Não foram os militares que mataram, não. Muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece. Até porque ninguém duvida, todo mundo tem certeza, que havia justiçamento. As pessoas da própria esquerda, quando desconfiavam de alguém, simplesmente executavam”, disse.
Fernando Frazão/ABr
Santa Cruz vai representar contra Bolsonaro no STF
O documento RPB 655, elaborado pelo Comando Costeiro da Aeronáutica, mostra que Jair Bolsonaro mentiu, ao dizer, nesta segunda, que Santa Cruz havia sido morto por militantes de esquerda. O relatório militar comprova que o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, foi preso pelo regime em 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro.
Há outros relatos que desmentem a versão de Bolsonaro para o fato. No livro Memórias de uma Guerra Suja, o escritor Marcelo Netto, ex-marido da jornalista Miriam Leitão, é descrito que Fernando foi morto, em 1974, pelos militares, em um local que ficou conhecido como “Casa da Morte”. O imóvel ficava na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro.
A existência do local se tornou pública com as denúncias da única sobrevivente ao local: Inês Etienne Romeu, ex-dirigente da organização VAR-Palmares. Ela foi presa, estuprada e torturada por mais de três meses na propriedade. Acabou por ser solta e a primeira a falar da Casa.
Corpo incinerado
No livro, o ex-delegado Cláudio Guerra, que trabalhou na máquina de tortura do governo militar, confirma que Fernando Santa Cruz foi um dos que passaram pelo local. “Em depoimento à CNV, o ex-delegado Cláudio Guerra disse que o corpo teria sido incinerado na Usina Cambahyba, em Campos”, afirma documento produzido pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).
“Tinha o Santa Cruz, que era jovem, veio para o Rio de Janeiro. De onde eu obtive as informações? Com quem eu conversei na época, ora bolas. Conversava com muita gente. E o pessoal da AP do Rio de Janeiro ficou, primeiro, ficaram estupefatos, ‘como é que pode esse cara vir do Recife se encontrar conosco aqui?’. O contato não seria com ele, seria com a cúpula da Ação Popular de Recife. E eles resolveram sumir com o pai do Santa Cruz. Essa é a informação que eu tive na época sobre esse episódio”, disse Bolsonaro.