O presidente do Banco Central da Argentina, Martín Redrado, se nega a deixar o cargo, apesar de já ter sido comunicado de sua exoneração, ordenada pela presidente Cristina Kirchner. A oposição argentina quer que o atual presidente da instituição continue no cargo, mas o governo ameaça recorrer à Justiça para fazer cumprir a ordem.
A demissão de Redrado foi consequência de uma série de divergências dele com as políticas econômicas mais recentes do governo. A gota d’água foi o fato de o BC negar-se a utilizar recursos da entidade para pagar dívidas com credores externos por meio do recém-criado Fundo do Bicentenário, que seria financiado pelo banco em cerca de 6,5 bilhões de dólares.
Hoje, Redrado se reuniu com os senadores Gerardo Morales e Ernesto Sanz, principais líderes do partido UCR (União Cívica Radical), de oposição. Vários analistas observam que a situação pode se agravar e gerar uma crise institucional.
A exoneração foi comunicada a Redrado na noite de terça-feira (5) pelo chefe-de-gabinete de Cristina, Aníbal Fernández, em cumprimento à ordem da presidente.
Segundo a Constituição argentina, o presidente do Banco Central goza de autonomia e só pode ser nomeado e removido com aprovação do Senado. A lei estabelece que o presidente não pode exonerar o ocupante do cargo, mas apenas solicitar sua remoção à câmara alta do congresso.
Consciente disso, o governo tem alegado que o que Cristina fez foi aceitar a renúncia apresentada por Redrado tempos atrás. “O presidente do Banco Central já tinha dito à presidente que podia contar com sua demissão”, declarou o ministro da Economia, Amado Boudou.
Os efeitos da controvérsia na bolsa já estão sendo sentidos. As ações estão em queda de maneira sensível, embora não dramática, e o dólar subiu um centavo. No distrito financeiro portenho, a sensação dos operadores é de incerteza.
Autonomia x autarquia
A autarquia da entidade foi implementada no final da década de 1990 e foi uma medida defendida pela corrente econômica conhecida como Consenso de Washington. Até então, o poder do Banco Central era muito menor e, embora tivesse autonomia, não tinha autarquia.
Especula-se que Mario Blejer, que já esteve à frente da entidade em 2002, durante o governo de Eduardo Duhalde, seria o sucessor de Redrado.
O economista conhece os bastidores do Banco Central da Argentina e tem contatos estreitos com o Fundo Monetário Internacional. Atualmente, ele é vice-presidente do Banco Hipotecário argentino e, poucos meses atrás, Amado Boudou o reconheceu como um de seus principais assessores.
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