O presidente do Conselho da União Europeia, Charles Michel, acusou nesta segunda-feira (20/09) os Estados Unidos de falta de lealdade depois que a Austrália cancelou um amplo contrato com a França para comprar submarinos de propulsão nuclear norte-americanos.
“Os princípios mais elementares para os aliados são transparência e confiança e estes andam juntos. Estamos vendo uma clara falta de transparência e lealdade”, disse Michel à imprensa nas Nações Unidas, antes da Assembleia Geral da organização.
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o governo norte-americano e o francês estão em contato para organizar a conversa, por telefone, que o presidente Joe Biden pediu ao chefe de Estado francês, Emmannuel Macron. Segundo Psaki, Biden aproveitará para lembrar o “compromisso com um dos nossos parceiros mais antigos e próximos sobre uma série de desafios que são enfrentados pela comunidade internacional”. Biden estaria “impaciente” para conversar com Macron, segundo um responsável norte-americano que pediu para não se identificar.
Mais cedo, a ministra belga das Relações Exteriores, Sophie Wilmès, disse que a aliança militar entre os Estados Unidos, a Austrália e o Reino Unido contra a França é um “choque.” De acordo com ela, “é um choque não só para a França, mas para Europa e também para a geoestratégia em nível mundial”, declarou durante um encontro com alguns jornalistas na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, onde o assunto está em todas as rodas de discussão.
A Europa, disse, deve estar “presente na cena internacional” para defender seus interesses estratégicos, principalmente em relação à China“, acrescentou. Ela espera que, na noite desta segunda-feira (20/09), os ministros das Relações Exteriores europeus cheguem a um consenso sobre uma “declaração comum”.
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Declaração do presidente do Conselho da União Europeia, Charles Michel, foi feita nas Nações Unidas
Segundo fontes diplomáticas, a França não pedirá um posicionamento comum da União Europeia. Ela pretende expor sua posição e lançar um debate sobre a definição da estratégia europeia na região. A crise diplomática atual, é um novo alerta “sobre a necessidade de se organizar melhor para agirmos juntos”, disse Wilmès, enfatizando a autonomia estratégica europeia.
Crise internacional
O governo da Austrália rejeitou, neste domingo (19/09), as acusações da França de que mentiu sobre seus planos de cancelar um contrato de compra de submarinos franceses em favor de navios norte-americanos.
Estados Unidos, Austrália e Reino Unido anunciaram na última quarta-feira (15/09) uma associação estratégica para contra-atacar a China, chamada AUKUS, que inclui o fornecimento de submarinos nucleares norte-americanos a Canberra, o que deixou os franceses fora do jogo.
Macron pedirá a Biden “um esclarecimento” e “explicações” sobre o que “parece ser uma grande quebra de confiança”, afirmou o porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, ao canal BFMTV. A França está furiosa com a decisão da Austrália de se retirar de um acordo de US$ 50 bilhões para a compra dos submarinos.
Paris convocou, na sexta-feira, seus embaixadores nos Estados Unidos e Austrália para consultas, acusando este último país de “mentir” sobre a ruptura do contrato, uma decisão sem precedentes entre aliados.