O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, apresentou nesta quinta-feira (14/07) um pedido de renúncia ao presidente italiano, Sergio Mattarrela, que o recusou.
Poucas horas antes, Draghi havia vencido uma moção de confiança no Senado, mesmo sem o apoio do populista Movimento Cinco Estrelas (M5S), membro da coalizão de governo e um de seus principais aliados, provocando uma crise política.
Mattarella pediu que Draghi vá ao Parlamento nos próximos dias para dar explicações, a fim de avaliar se o primeiro-ministro ainda mantém o apoio de parlamentares que sustentam seu governo. Assim, Draghi poderia seguir no cargo de primeiro-ministro, evitando a antecipação das eleições de 2023.
A moção de confiança desta quarta-feira passou com 172 votos a favor e 39 contra, mas os senadores do M5S – que inclui partidos da extrema direita até a esquerda – se ausentaram, depois de ter anunciado sua abstenção, por não estarem de acordo com um decreto de ajuda social perante a crise, que consideram insuficiente.
Draghi já havia alertado que não continuaria liderando o governo sem o apoio do M5S. Segundo ele, a coalizão de “unidade nacional” que apoiava seu governo já não existe mais e, portanto, não haveria mais condições para continuar seu trabalho.
Diferentes reações das partes
Após o pedido de renúncia de Draghi, os social-democratas italianos seguiram apoiando o primeiro-ministro. “Estamos trabalhando para um 'Draghi 2', para podermos concluir o trabalho do plano de recuperação, a lei orçamentária e a situação na Ucrânia nos próximos meses”, escreveu no Twitter o ex-premiê Matteo Renzi, do partido Italia Viva.
Por outro lado, Giorgia Meloni, do partido de extrema-direita Irmãos da Itália (FdI), disse que “quando surge uma tempestade, se deve perguntar aos cidadãos quem deve ser o capitão do navio”.
Roberto Monaldo/LaPresse/AP/picture alliance
Moção de confiança teve 172 votos a favor e 39 contra
Como o sistema parlamentar que governa a Itália é complexo, não está excluído que ele obtenha um novo mandato e possa governar com outra maioria.
Mattarella aposta em Draghi, um ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), para ajudar a Itália a atravessar a pandemia de covid-19 e para aproveitar os bilhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência da UE.
Draghi foi convidado em fevereiro de 2021 por Mattarella para liderar uma coalizão heterogênea, que reúne quase todos os partidos representados no Parlamento. A única exceção é a sigla de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que permaneceu na oposição e é amplo favorito nas pesquisas.
M5S se distancia do governo
O M5S vem perdendo apoio popular, o que tem o levado a tomar posições mais distantes do governo. Esta semana, seu líder, Giuseppe Conte, explicou que o voto de protesto não significa que o partido queira abandonar a coligação.
Conte insiste que “está absolutamente disponível para ajudar o primeiro-ministro”, desde que numa “fase completamente nova de governo”, alegando que as medidas de ajuda social agora propostas “são insuficientes”.
Ele vem reclamando há semanas das prioridades do governo, exigindo um alívio financeiro mais generoso para famílias e empresas atingidas pelos altos custos de energia, e o financiamento de um salário mensal garantido para quem não consegue encontrar trabalho.
Eleições antecipadas
Uma queda do governo provocaria eleições antecipadas, e os próximos meses vão ser complicados devido ao aumento da inflação e às reformas pendentes exigidas pelo pacote de recuperação pós-pandemia financiado pela União Europeia, com cerca de 200 bilhões de euros.
A antecipação do pleito para o segundo semestre deste ano seria altamente incomum na Itália, por ser esse o período em que o governo tradicionalmente elabora seu orçamento, que deve ser aprovado até o fim do ano.