“O resultado do modelo neoliberal é pobreza e desigualdade. O que queremos com nosso modelo é oportunidade para todos e mobilidade social”, afirmou o presidente da Bolívia, Luis Arce, durante a palestra “Modelo Económico Social Comunitario Productivo”, em evento organizado pelo Mídia NINJA em São Paulo, na tarde desta segunda-feira (05/09).
Arce foi ministro da Economia no governo Evo Morales entre os anos 2006 e 2017, e depois entre janeiro e novembro de 2019, tendo instalado, nesse período, um novo plano econômico para o país. O objetivo, segundo ele, era pensar uma alternativa após mais de 20 anos sob políticas neoliberais, para “resolver o problema da comunidade, não de um grupo ou de alguns na sociedade”, mas da comunidade boliviana como um todo.
O Modelo Econômico Social Comunitário Produtivo Boliviano tem quatro bases fundamentais, segundo explicou o mandatário, sendo elas crescimento e desenvolvimento com base nos recursos naturais para o benefício dos bolivianos, apropriação dos excedentes econômicos, modelo redistribuidor de renda e redução da desigualdade social e da pobreza.
En São Paulo, #Brasil, compartimos los pilares del Modelo Económico Social Comunitario Productivo Boliviano, que rebate al viejo modelo neoliberal y pone al Estado como principal generador de excedentes, para distribuirlos entre la población, reduciendo la pobreza y desigualdades pic.twitter.com/uupGI7Zcwr
— Luis Alberto Arce Catacora (Lucho Arce) (@LuchoXBolivia) September 5, 2022
Influenciado por valores dos povos originários bolivianos, o então ministro da economia pensou em uma “economia plural” e com “espaço para cooperação” com foco no mercado interno e dependência de demandas que o próprio país consegue oferecer.
“A melhor maneira de fazer política econômica é com política monetária e economia soberana, sem submeter-se a nenhum organismo internacional. Estamos em melhores condições porque a Bolívia não tem acordos internacionais desde 2006”, afirma o presidente.
Na capital paulista, ele ainda destacou economia é uma “ciência eminentemente social” e que, portanto, “deveria resolver problemas sociais”.
De acordo com o líder, dois momentos importantes impediram a completa execução da diretriz econômica na Bolívia, sendo o primeiro deles o golpe de Estado sofrido pelo país entre novembro de 2019 e outubro de 2020, que deslocou o eixo das políticas econômicas para o modelo neoliberal. O segundo momento foi a pandemia da covid-19, decretada oficialmente em março de 2020.
Twitter/Luis Arce
Presidente boliviano Luis Arce em evento na Nave Coletiva, sede da ‘Mídia NINJA’ em São Paulo, na tarde desta segunda-feira (05/09)
Para a reorganização da economia no momento de recesso, a ativação da demanda interna, implementação de um benefício contra a fome desde dezembro de 2020, aumento do salário mínimo nacional, programas de geração de emprego e cobranças de impostos a grandes fortunas foram as principais políticas adotadas pelo governo Arce sob as diretrizes econômicas defendidas por ele.
Segundo o líder, Modelo Econômico Social Comunitário Produtivo Boliviano permitiu que o PIB (Produto Interno Bruto) da Bolívia fosse de 4,7%, de 2006 a 2019. Em 2014, 2015 e 2018, o país ainda apresentou o maior crescimento dos países da América Latina. Já durante a política neoliberal, por outro lado, de 1985 a 2005, o país registrou a média do PIB em 3%.
As empresas privadas bolivianas também não ficaram para trás sob sua gestão econômica, destacou. Em março de 2021, o país tinha 4.565 organizações privadas, já no mesmo período em 2022, eram 5.078 empresas, um crescimento de 11%.
Outro dado apresentado pelo presidente é a inflação controlada na Bolívia. O país sul-americano tem a menor porcentagem de inflação acumulada em 2022. Em relação à pobreza extrema, de 2005 a 2021, o país também foi o que mais reduziu a taxa, com 27,1% de contração.
Arce ainda comentou sobre as eleições presidenciais no Brasil, descrevendo o momento como “muito importante”. Horas antes da palestra, ele se encontrou com o ex-presidente e atual candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem agradeceu pelo “grande carinho com o povo boliviano e sua constante luta pela unidade da Pátria Grande”.
A agenda do presidente da Bolívia no Brasil foi encerrada ainda na segunda-feira com uma reunião junto à comunidade boliviana em São Paulo. Segundo o governo municipal, são cerca de 75 mil imigrantes na cidade.