O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, obteve nesta segunda-feira (18/01) o voto de confiança da Câmara dos Deputados e superou a primeira prova no Parlamento para tentar manter governo.
Liderando seu segundo governo, Conte teve de se dirigir ao poder Legislativo após o ex-premiê Matteo Renzi retirar seu partido, o centrista Itália Viva (IV), da base governista. O voto de confiança terminou com placar de 321 a 259 a favor do chefe de governo, mas a vitória na Câmara já era dada como certa. Ao todo, foram 27 abstenções.
O desafio de Conte será nesta terça-feira (19/01), com a votação da confiança no Senado, onde o primeiro-ministro ainda busca o apoio necessário para seguir no poder. A hipótese mais forte no momento é de que o governo consiga uma maioria relativa graças a uma abstenção do Itália Viva, mas isso o deixaria em posição de fragilidade.
Segundo cálculos da imprensa italiana, Conte teria hoje por volta de 154 votos no Senado (de um total de 320) e precisaria de mais sete para assegurar maioria absoluta. No entanto, uma eventual abstenção do IV abaixaria o quórum mínimo e possibilitaria uma maioria relativa.
“Irresponsabilidade”
Conte discursou durante 55 minutos na Câmara dos Deputados e não poupou críticas indiretas a Renzi, que rompeu com o governo por discordar de suas políticas em relação aos fundos da União Europeia. “Confio que, com a votação de hoje, as instituições saberão compensar essa confiança reparando um grave gesto de irresponsabilidade”, disse o premiê.
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Desafio de Giuseppe Conte será nesta terça-feira (19/01), com a votação da confiança no Senado
De acordo com Conte, ele foi forçado a ir ao Parlamento para “tentar explicar uma crise sem fundamento”. “Essa crise provocou profundo incômodo no país e arrisca produzir danos notáveis, não apenas porque fez os juros subirem, mas também porque atraiu a atenção da imprensa internacional e das chancelarias estrangeiras”, ressaltou.
O primeiro-ministro disse que é hora de “virar a página” e que a Itália merece um “governo coeso”, além de ter pedido apoio de forças que representam a “mais alta tradição europeísta”.
Advogado de carreira, Giuseppe Conte é primeiro-ministro desde 1º de junho de 2018, inicialmente chefiando uma coalizão entre o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e a ultranacionalista Liga e, a partir de setembro de 2019, em uma coalizão do M5S com legendas de centro-esquerda.
Rompimento
Renzi foi um dos artífices do acordo com o Movimento 5 Estrelas, seu arquirrival na política italiana, que evitou eleições antecipadas após a saída da Liga do governo.
Na época, o ex-premiê era expoente do centro-esquerda Partido Democrático (PD) e dizia ser movido pelo desejo de evitar dar o poder ao ex-ministro do Interior Matteo Salvini. Logo depois do acordo, Renzi rompeu com o PD e fundou o Itália Viva, tornando-se a principal voz dissonante no governo.
Além das divergências sobre os fundos do plano de recuperação da UE para o pós-pandemia, Renzi critica Conte por acumular o comando dos serviços secretos e por rechaçar o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), instrumento de socorro a nações em dificuldade na eurozona mediante empréstimos com juros subsidiados.
O ex-premiê também já expôs sua contrariedade em relação às políticas de comunicação do governo e à renda básica de cidadania, espécie de “bolsa família” da Itália e bandeira do M5S.