Agência Efe – foto de arquivo de 3 de março de 2004
O venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, mais conhecido como “Carlos, o Chacal”, pediu nesta segunda-feira (13/05) a troca de seus advogados logo na abertura de um processo penal de apelação contra uma sentença que o condenou à prisão perpétua em 2011.
Ele alegou não ter meios para pagá-los e criticou o governo venezuelano por não apoiar financeiramente sua defesa. As informações são do jornais El Mundo e Le Figaro.
“Eu proibi meus advogados de virem me defender”, disse ele na abertura da sessão, ao justificar a ausência na corte de sua equipe de defesa – composta por Isabelle Coutant-Peyre, casada informalmente com seu cliente.
“Não é nada contra a corte, não tenho nenhuma intenção de sabotar o processo”, se justificou. “Mas não temos recursos para me defender, meus advogados não podem pagar as custas processuais do próprio bolso”, argumentou.
Com essa decisão, a corte determinou que Carlos fosse defendido pro três jovens advogados nativos. Eles pediram uma semana a mais de prazo para poderem se inteirar do processo, mas o juiz negou o pedido. “Eles não estão a par do processo, mas eu estou. Isso enfraquecerá um pouco a defesa, mas vamos nos virar”, afirmou o réu ao juiz.
“Carlos”, de 63 anos, foi condenado à prisão perpétua em 15 de dezembro de 2011 pelo tribunal penal de Paris em razão de atentados terroristas entre 1982 e 1983 na França que resultaram na morte de 11 pessoas e deixaram quase 150 feridas, além de destruição de propriedade. A condenação também determinou que ele não teria qualquer benefício penitenciário nos primeiros 18 anos de detenção, mas já se encontra desde 1994 (19 anos) encarcerado na França.
Ele também cumpre outra pena de prisão perpétua, pronunciada em 1997 pela justiça francesa, pelo assassinato em Paris de três homens, dois deles policiais, em 1975.
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Sua apelação deverá ser julgada até o dia 5 de julho por sete magistrados que reexaminar o processo. Coutant-Peyret alega que sua captura, ocorrida no Sudão, em 15 de agosto de 1994, foi realizada de forma irregular, assim como outras diversas etapas do processo.
No país africano, segundo a defesa, Carlos foi feito prisioneiro por sua própria equipe de escolta e transportado para um aeroporto privado nas mãos de agentes secretos franceses. Com a autorização do governo sudanês, ele foi levado de avião a Paris.
Defesa
Carlos se diz inocente em relação aos atentados ocorridos na França dos quais é acusado atualmente – a explosão de quatro bombas em dois trens de grande velocidade (um em Paris e outro em Marselha).
“Assumo a responsabilidade política e militar de todos os atentados cometidos pela ORI (Organização de Revolucionários Internacionalistas) e pela FPLP (Frente Popular de Libertação da Palestina) em favor da causa palestina, mas não há nada que me relacione aos quatro atentados pelos quais sou julgado nesse processo que mais parece uma comédia de ‘filmes B’”, disse o réu durante o processo.
A Justiça francesa acredita que seu objetivo era exigir do então presidente François Mitterrand a libertação de dois companheiros de armas. Junto ao “Chacal”, foram também condenados à revelia e à mesma pena o palestino Ali Kamal al Issawi e o alemão Johannes Wienrich. Absolvida em primeira instância, a alemã Christa Margot Frolich, acusada de envolvimento em um dos quatro atentados, também voltará a ser julgada, já que a promotoria apelou da decisão. Frolich está foragida e é alvo de uma ordem de prisão internacional.
Perfil
Nascido em Michelena, na Venezuela, filho de um advogado, Ramírez foi educado em Londres e Moscou. Aprendeu técnicas de guerrilha em um acampamento da FPLP (Frente Popular de Libertação Palestina), na Jordânia, onde seu mentor, Wadih Haddad, lhe deu a alcunha de guerra de “Carlos”.
O aposto “Chacal” foi dado pela mídia, em referência à obra fictícia “O dia do Chacal”, de Frederic Forsyth, sobre uma tentativa de assassinato ao general Charles De Gaulle. Ficou conhecido por uma série de ações armadas nas décadas de 1970 e 1980, segundo ele em prol da causa palestina e de causas da esquerda. Chegou a ser considerado pela mídia e governos ocidentais como o “terrorista” mais perigoso e temido de sua época.