Além dos impactos da crise mundial, a economia do Irã sofre com os efeitos dos protestos da população, que já duram mais de um mês e tiveram início com a divulgação do resultado da eleição presidencial, pela suspeita de que o presidente Mahmoud Ahmadinejad teria sido reeleito com fraude. Muitos estabelecimentos comerciais foram destruídos durante as manifestações e ainda permanecem fechados.
A capital Teerã, onde os protestos foram mais freqüentes e tiveram maior adesão tanto de partidários de Ahmadinejad quanto do reformista Mir-Houssein Mousavi, foi a mais prejudicada, segundo informou ao Opera Mundi uma economista iraniana da Universidade de Esfahan que pediu para não ser identificada. Teerã concentra quase dois terços da economia do país, principalmente atividades comerciais, as mais afetadas pela crise política.
Veja vídeo de protesto em Teerã no último dia 3:
De acordo com a economista, os pequenos comerciantes da capital foram os que mais sofreram, principalmente no final de junho e início de julho, quando os protestos não se encerraram, ao contrário do que esperava o governo, e a repressão aumentou. “Não é preciso ser economista para chegar à conclusão de que os mais pobres são os mais prejudicados com o problema político que acontece”, disse.
Com os estabelecimentos fechados – seja pela adesão dos comerciantes aos protestos ou por medo de ter o local destruído –, as vendas foram afetadas. O jornalista Hossein Esfandiyari, de uma agência de notícias de Teerã, conta que as lojas amanheciam com os vidros quebrados ou eram depredadas, principalmente as da região central. Além disso, lembra o jornalista, muitas pessoas morreram – foram mais de 20 mortos nos protestos.
EFE
Ainda não é possível avaliar se houve aumento do desemprego, pois cifras oficiais não foram divulgadas, e “isso não seria feito”, explica a economista. Extraoficialmente o que se nota é que a circulação de dinheiro diminuiu devido à redução nas vendas, o que afeta, principalmente, os pequenos comerciantes.
A dificuldade para avaliar as perdas do comércio são difíceis, segundo ela, já que muitos estabelecimentos ainda estão fechados por conta dos prejuízos com a destruição, além da inexistência de uma contagem oficial e dos obstáculos que o Ministério da Economia e Finanças coloca para outras instituições fazerem estimativas.
O comércio e setor de serviços privados são os principais pilares da economia iraniana, representando 45% do PIB (Produto Interno Bruto), avaliado em 842 bilhões de dólares no ano passado.
Outros setores
A agricultura, responsável por 25% do PIB com a produção de trigo, cevada, algodão, tabaco, chás, frutas frescas e secas e cereais como o centeio, o milho e o sorgo, não foi prejudicada por estar concentrada nas áreas rurais, onde as manifestações não foram numerosas.
A indústria, que representa 31% do PIB com a produção composta majoritariamente por alimentos, maquinário, equipamentos de transporte, ferro e aço, também não diminuiu o ritmo.
Europeus afastados
Os investimentos externos no país, que somam cerca de 17 bilhões de dólares por ano, também diminuíram por conta dos protestos, o que, segundo a economista, era previsível, já que quando há um conflito ou uma crise, os investidores ficam mais cautelosos. “Se a insegurança se tornasse uma tendência, prejudicaria significativamente a economia. Os investimentos são essenciais para as atividades industriais, que colaboram com a diversificação, a independência do petróleo”, afirmou.
Entre os que diminuíram os investimentos no Irã estão principalmente os países europeus, que deixaram de aplicar cerca de 700 milhões de dólares. Já os demais vizinhos, especialmente os do Golfo Pérsico, além de Tailândia e Coreia do Sul, não reduziram os aportes. Para o jornalista Hossein Esfandiyari, isso se deve ao fato de a relação do Irã com o Oriente ser melhor do que com o Ocidente. “Tivemos dias quentes aqui, mas grande parte do terror e do medo que o ocidente teve é responsabilidade da mídia”.
Desde a última década, a economia iraniana passou a ter instituições financeiras, bancos não estatais com capital estrangeiro e multinacionais, como a automotiva Iran Khodro, a maior do Oriente Médio, localizada na região norte de Teerã. Apesar de não ter a produção afetada (1,2 milhão de carros em 2008) pela onda de protestos, teve o valor de suas ações prejudicado nas bolsas de valores.
O petróleo e a crise
A economia iraniana – já bastante prejudicada pela crise mundial – foi o principal ponto da campanha eleitoral presidencial, por conta da desvalorização do petróleo no mercado internacional.
O Irã é o segundo maior produtor de petróleo da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e possui 10% das reservas mundiais comprovadas, além de possuir a segunda maior reserva de gás natural do mundo, logo depois da Rússia. Apesar das tentativas dos últimos governos de diversificar a economia para torná-la menos dependente do combustível, o petróleo e os produtos químicos e petroquímicos ainda representam 90% da exportação do país, com uma produção de 3,9 milhões de barris por dia. Os maiores destinos dos produtos iranianos são o Japão, a China e a África do Sul, que somam 30% das exportações.
Por não ter refinarias suficientes, o país precisa comprar combustível, e a operação é feita a preço de mercado. Quando Ahmadinejad assumiu o governo, em 2005, os preços do petróleo estavam altos – acima de 75 dólares o barril. Ele teria gastado muito em benefícios para o país, mas não conseguiu estimular nem o investimento doméstico, nem o externo.
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Um dos principais desafios da economia são os altos índices de inflação e de desemprego. No primeiro trimestre de 2009, segundo o Banco Central do país, a inflação foi de 60%. O desemprego está em torno de 12,5% no início do ano.
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