O encontro foi realizado em novembro do ano passado em uma mansão nos arredores de Berlim, mas só foi revelado semana passada por um grupo de jornalismo investigativo chamado Correctiv.
A reunião teve a participação não só de políticos, mas também de advogados, empresários e profissionais liberais, entre outros. Nela, também estiveram presentes extremistas de direita e neonazistas, que debateram um plano para a expulsão de milhões de migrantes, incluindo os que têm cidadania alemã.
O evento teve a presença de integrantes do chamado movimento identitário austríaco e do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD). Um líder conhecido deste movimento confirmou que apresentou nesse encontro suas propostas para um plano de “remigração”.
“Remigração” é o eufemismo usado pela extrema direita para classificar deportações em massa de estrangeiros. O movimento identitário é conhecido por pregar uma teoria de conspiração afirmando que uma elite oculta visaria substituir a população etnicamente branca da Europa por migrantes da África e do Oriente Médio.
Chanceler participa de protestos
A notícia da participação de membros da AfD na reunião causou indignação na Alemanha, com uma série de protestos em várias cidades do país. O próprio chanceler alemão, Olaf Scholz, chegou a participar de um deles e motivou a população a se manifestar contra o racismo, a xenofobia e a democracia.
Embora a AfD já seja conhecido como um partido radical de direita, a notícia sobre a discussão de uma proposta de deportação massiva de migrantes provocou escândalo.
Fundado como um partido basicamente anti-União Europeia, a AfD vem assumindo um discurso cada vez mais à direita nos últimos anos, defendendo políticas mais restritivas para a imigração. Setores da legenda têm tendências declaradamente xenófobas.
O próprio partido tentou se distanciar, disse que está sendo vítima de perseguição e negou que defenda a deportação em massa de estrangeiros.
O AfD afirmou que não organizou o encontro, que o evento tinha caráter privado e que os membros do partido que estavam presentes sequer tinham conhecimento prévio de que aquela proposta ia ser abordada. Um dos participantes era um assessor de Alice Weidel, copresidente da AfD. Ele foi demitido dias depois, por conta de sua participação na reunião.
A AfD é hoje o segundo maior partido de oposição no parlamento alemão, depois dos conservadores da ex-chanceler Angela Merkel. Sua popularidade também está em alta nas pesquisas. Esse é um ponto que também preocupa, já que muitos consideram a AfD uma ameaça à democracia e ao Estado de direito.
IMAGO/Eberhard Thonfeld
Chanceler Olaf Scholz, a Ministra das Relações Exteriores Annalena Baerbock e a Ministra da Ciência Manja Schüle manifestam-se contra a AfD
Partido de extrema-direita avança nas pesquisas
A sigla AfD vem ganhando cada vez mais espaço na política alemã. Atualmente, as pesquisas colocam o partido em segundo lugar nas intenções de votos, com 22%, na frente dos partidos do governo, só atrás da oposição conservadora da ex-chanceler Merkel, que teria pouco mais de 30%.
Este ano, vão acontecer eleições em três estados do leste da Alemanha onde a AfD está na liderança das sondagens, tendo até mesmo chances paupáveis de conquistar o governo de um deles, a Turíngia. Também vão acontecer eleições para o Parlamento Europeu.
Por conta desse escândalo, muito se voltou a falar em proibir a AfD, devido à ameaça ao Estado de direito representada pela legenda, segundo críticos. Entretanto, há muitas reservas quanto ao tema entre políticos e analistas. Existe o temor de que um processo de proibição até ajude a catapultar ainda mais a popularidade do partido, a exemplo do que ocorre com Donald Trump nos Estados Unidos, que aparentemente ganha votos a cada participação em uma ação judicial.
Além disso, o risco é grande de que a proibição seja derrubada pelo Supremo Tribunal alemão, como já ocorreu em duas tentativas de se tentar proibir o partido de extrema direita NPD, que continua funcionando legalmente, embora tenha pouca relevância no panorama político, ao contrário da AfD.