Atualizada às 15:51
A publicação de um dossiê indicando o suposto envolvimento do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e a Rússia nesta terça-feira (10/01) pelo site Buzzfeed tem sido debatida na imprensa internacional, mas não só pelas informações apresentadas pelo documento. A pertinência da publicação e a responsabilidade do site têm sido questionadas por jornalistas e especialistas em mídia, visto que a veracidade do dossiê e dos dados que ele traz não é possível de ser verificada.
O documento, que tem circulado entre políticos, agências de inteligência e imprensa dos EUA há meses, alega que o Kremlin teria auxiliado Trump durante os últimos cinco anos, e que a FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia) teria suficiente material “comprometedor” das visitas de Trump a Moscou para chantageá-lo. Trump e sua equipe negaram a veracidade dos documentos, assim como o governo russo.
A existência do documento foi divulgada pela revista norte-americana Mother Jones em outubro do ano passado, mas o conteúdo do dossiê não havia sido divulgado. Segundo a CNN, o FBI ainda está investigando a veracidade do documento, mas tanto o atual presidente norte-americano, Barack Obama, e o presidente eleito foram informados pela agência de investigação sobre as informações que ele contém.
A Wikileaks criticou a decisão do Buzzfeed. “Não endossamos a publicação do Buzzfeed de um documento que é claramente falso”, afirmou a organização, que é pivô do principal ponto de tensão entre o governo Obama, o governo russo e Donald Trump por ter divulgado emails da então candidata Hillary Clinton e de membros do Partido Democrata durante a campanha eleitoral – vazamento que o atual governo dos EUA acusa Vladimir Putin, presidente da Rússia, de ter ordenado para favorecer Trump.
WikiLeaks has a 100% record of accurate authentication. We do not endorse Buzzfeed's publication of a document which is clearly bogus.
— WikiLeaks (@wikileaks) 11 de janeiro de 2017
Wolfgang Blau, diretor digital da Condé Nast, um dos maiores grupos editoriais de revistas no mundo, também criticou a publicação: “Raramente uma história fede de todos os ângulos possíveis: a fonte, o conteúdo, a conseqüência, o mensageiro, o alvo”, disse no Twitter.
Agência Efe
Segundo documentos vazados publicados pelo Buzzfeed, Rússia teria material “comprometedor” para chantagear Trump
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Já o reporter Adam Goldman, do New York Times, culpou a CNN por lançar a primeira pedra, já que a emissora publicou uma notícia sobre Obama e Trump serem informados sobre relatórios do FBI acerca do dossiê.
“Sequência de eventos: CNN encontra uma forma de falar sobre o relatório e Buzzfeed usa isso como razão para publicar. Críticos da mídia ficarão ocupados”, publicou no Twitter.
Sequence of events: @CNN finds way to talk about report and @buzzfeed uses that as reason to publish. Media critics are gonna be busy.
— Adam Goldman (@adamgoldmanNYT) 11 de janeiro de 2017
O editor-chefe do Buzzfeed Ben Smith publicou uma nota explicando a decisão de divulgar os documentos confidenciais, apesar de haver “sérias razões para duvidar” do documento. “Nossa presunção é de ser transparentes no nosso jornalismo e compartilhar o que temos com os nossos leitores. Sempre nos inclinamos para o lado de publicar”, declarou em mensagem à redação do site, compartilhada nas redes sociais.
Here's the note I sent to @buzzfeednews staff this evening pic.twitter.com/OcAloWzVzb
— Ben Smith (@BuzzFeedBen) 11 de janeiro de 2017
“A publicação desse dossiê reflete como vemos o trabalho de repórteres em 2017”, afirmou Smith, que declarou que o site continuará investigando alegações específicas presentes no dossiê.
A decisão foi defendida por Richard Tofel, presidente da agência de notícias independente ProPublica, para quem a publicação das informações vai acelerar a investigação do dossiê e o esclarecimento de quais alegações são verdadeiras ou falsas.
What changed yesterday was 2 key things: we learned that US intelligence had considered the dossier impt enough to inform Trump and Obama /2
— Richard Tofel (@dicktofel) 11 de janeiro de 2017
And an impt news org published that fact and the central points made in the dossier, even while noting they remain unverified /3
— Richard Tofel (@dicktofel) 11 de janeiro de 2017
Also, publication will likely accelerate discovery of what in dossier is true and what not. That is what we should all want. /5
— Richard Tofel (@dicktofel) 11 de janeiro de 2017
“O que mudou desde ontem foram duas coisas: ficamos sabendo que a inteligência norte-americana considerou o dossiê importante o suficiente para informar Trump e Obama, e uma organização de notícias importante publicou o fato e os pontos centrais do dossiê, ao mesmo tempo indicando que eles continuam sem verificação. A publicação provavelmente irá acelerar a descoberta do que é verdade e do que não é. É isso que todos deveríamos querer”, declarou Tofel.