Elly Schlein, uma bissexual assumida de 37 anos, venceu as primárias do Partido Democrático italiano no final de julho. Agora, ela está pronta para colocar a esquerda italiana – em crise de identidade há anos –, de volta nos trilhos e pode muito bem ofuscar a chefe de governo de extrema direita, Giorgia Meloni, que representa exatamente o seu oposto.
Ela é frequentemente apresentada como a “anti-Meloni”, como escreveu a revista norte-americana Vanity Fair em 2022. Elly Schlein conseguiu conquistar a liderança do Partido Democrata em detrimento de um membro importante desse partido graças aos votos de seus partidários.
Nascida em Lugano, na Suíça, na fronteira com a Itália, de pai norte-americano e mãe italiana, esse novo rosto da esquerda italiana traz um contraste impressionante para o cenário político italiano.
“Elly Schlein é uma figura que apareceu de repente no cenário político italiano”, diz Giuseppe Bettoni, professor de geopolítica da Universidade Tor Vergata, em Roma, e da Universidade Jean-Jaurès, em Toulouse.
“Ela é uma pessoa que sempre foi sensível aos aspectos sociais, políticos e outros aspectos da vida, sem seguir o caminho clássico tomado por outras figuras. E foi essa grande novidade que atraiu os italianos. No entanto, é um perfil cuja ascensão você nunca preveria”, diz Bettoni.
Experiência com Barack Obama
Elly Schlein vem se envolvendo social e politicamente desde muito jovem, e mesmo no exterior. Sua primeira experiência real com a política foi em Chicago, nos Estados Unidos, como parte da campanha nas primárias democratas de 2008 para Barack Obama, explica Hervé Rayner, especialista em Itália contemporânea e professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Lausanne. “Ela fez isso novamente em 2012 para a reeleição do presidente Obama”, detalha.
Em seu retorno à Itália, ela se tornou membro do Partido Democrático italiano, antes de deixá-lo por achar que não era suficientemente de esquerda.
Eleita como membro do Parlamento Europeu em 2014, ela continua a gravitar em torno desse partido político, que está perdendo terreno.
Twiiter / Elly Schlein
Schlein começou a ganhar destaque entre os eleitores italianos após declarar sua bissexualidade
Nomeada vice-presidente da região de Emilia-Romagna em 2020 por Stefano Bonaccini, seu oponente nas primárias do Partido Democrático que ela acabara de vencer, Elly Schlein começou a ganhar destaque entre os eleitores italianos, principalmente ao declarar sua bissexualidade em um programa de televisão. É uma posição que ela diz abraçar totalmente, assim como sua posição a favor dos migrantes.
À frente de um partido em crise de identidade
Eleita como membro do Parlamento em setembro passado, ela se posicionou para assumir as rédeas do Partido Democrata. Um partido que precisa redescobrir sua identidade. “É um partido que ainda está procurando seu projeto, que ainda quer entender pelo que está lutando”, diz Giuseppe Bettoni.
“Já existe uma fratura que precisa ser superada. Lembremos: as células do Partido Democrata tinham preferência por Stefano Bonaccini, enquanto as primárias – ou seja, as eleições em que as bases podem votar, além das pessoas que não estão registradas no Partido Democrata – claramente deram a Elly Schlein o cargo de secretária. Isso significa que há uma divisão ali dentro”, explica.
“Agora à frente do partido, Elly Schlein certamente dará a ele uma orientação mais à esquerda, o que já levou à saída de alguns de seus membros. Mas essa mudança também é esperada por muitos eleitores italianos. Alguns estão falando de uma recuperação do interesse e de novos registros no partido após essas primárias”, diz Hervé Rayner.
O que é certo é que ela tem muitos recursos para encarnar o novo. Ela é a primeira mulher a presidir esse partido. Sua juventude – 37 anos de idade – também a torna semelhante a Giorgia Meloni.
Há também o fato de que ela vem da base de estudantes do “movimento” do partido. Essa é uma grande mudança em relação aos secretários mais velhos ou àqueles posicionados no centro. Nesse aspecto, é uma espécie de ponto de virada na política italiana.
Elly Schlein, anti-Meloni, bissexual, pró-migrante e a favor dos direitos da comunidade LGBTQIA+, terá que começar a trabalhar imediatamente, pois as eleições europeias estão se aproximando. Elas podem muito bem confirmar seu status de líder da esquerda na política italiana ou acabar com ele, se o Partido Democrático não conseguir ultrapassar a barreira dos 20%. Mesmo que, de acordo com Giuseppe Bettoni, o partido não tenha interesse em deixar de lado a nova musa da esquerda.