Um dos fatores destacáveis da eleição constituinte deste domingo (07/05) no Chile, mas que não ocupou muito os meios de imprensa, foi o recorde de votos nulos registrados em uma eleição no país.
Foi a primeira vez na história das eleições chilenas que essa opção alcançou um percentual de dois dígitos, ficando em 16,9%, o que significou pouco mais de dois milhões de votos totais. Junto com os votos em branco, que foram 4,6% [pouco mais de 560 mil], chega-se a um total de 21,5%, ou cerca de 2,5 milhões de votos totais.
Se fossem uma coalizão, os votos nulos e brancos seriam a terceira força mais votada do país, na frente da direita tradicional (Chile Vamos, que teve 16,1% e conquistou 11 vagas) e da coalizão de partidos de centro (Todos por Chile, que fez 7,9% e não elegeu ninguém).
Perderiam para a coalizão governista, Unidade para Chile (Partido Comunista, Partido Socialista, Frente Ecologista Verde e Frente Ampla, essa última é a legenda a qual pertence o presidente Gabriel Boric), mas por uma pequena diferença: a aliança de esquerda teve 27,6% dos votos, cerca 2,9 milhões de votos totais, e só conseguiu eleger 16 dos 50 membros do Conselho Constituinte que será encarregado de escrever a nova Constituição do país.
Televisão Nacional do Chile
Eleições constituintes deste domingo (07/05) no Chile registraram mais de 2 milhões de votos nulos, um recorde histórico no país
Enquanto isso, a lista do Partido Republicano, força ultradireitista que competiu sozinha, teve 34,4% dos votos, ou 3,4 milhões de votos totais, o que significou 23 vagas na constituinte.
Segundo a analista política chilena Marta Lagos, do Instituto Latinobarômetro, o fenômeno do voto nulo foi decisivo, mais para o fracasso do governo do que para a vitória da extrema direita.
“Este foi um tipo de voto nulo muito específico, de um eleitor que buscava na cédula um nome que fosse do seu agrado, e não encontrou. Isso aconteceu com eleitores de esquerda e de direita, mas mais entre os de esquerda, porque na direita, o Partido Republicano soube chegar à maioria dos eleitores do seu setor”, explicou a acadêmica.
A cientista política também considera ser “um erro achar que todos os votos nulos são de esquerda”, porém, acredita que “existe sim uma grande desilusão das pessoas que votaram em Boric em 2021, e isso está refletido no resultado desta eleição”.