Autoridades da região separatista moldava da Transnístria, apoiada pela Rússia, pediram nesta quarta-feira (28/02) a Moscou que os protegesse do que descreveram como pressão econômica do governo da Moldávia. Para os aliados da Ucrânia na Europa, a situação é “perigosa” e pode significar um alargamento da guerra.
Reunidos em Tiraspol para um congresso extraordinário, o primeiro desde 2006, os deputados da Transnístria, território separatista pró-Rússia da Moldávia, decidiram adotar uma declaração. No texto, citado pelas agências de notícias russas, o Parlamento russo é chamado a “implementar medidas para proteger a Transnístria”, onde vivem “mais de 220 mil cidadãos russos”, face à “pressão crescente da Moldávia”. A Transnístria enfrenta “ameaças sem precedentes de natureza econômica, sócio-humanitária e político-militar”, acrescenta a declaração, que não explica os detalhes sobre a ajuda desejada.
Este anúncio dos separatistas pró-Rússia da Moldávia não é uma surpresa, pois lembra o pedido semelhante feito pelos separatistas pró-Rússia, no leste da Ucrânia, em fevereiro de 2022, e que se tornou um dos pretextos apresentados por Vladimir Putin para lançar o ataque em grande escala contra a Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez um apelo aos líderes dos países do Sudeste Europeu, reunidos na Albânia para uma cúpula, a prestarem mais apoio ao seu país, que carece de munições para enfrentar a Rússia.
Acusações de “genocídio” ou propaganda
As autoridades separatistas disseram que o congresso de quarta-feira, com a participação de 620 deputados, foi uma reação à recente imposição de direitos aduaneiros por parte de Chisinau sobre as importações provenientes da Transnístria. Citado pela mídia local, em seu discurso o presidente da autoproclamada república Transnístria, Vadim Krasnosselski, garantiu que este território sofria “uma política de genocídio”, através de pressões econômicas, “físicas”, jurídicas e linguísticas.
Nesta resolução, os eurodeputados se dirigem também à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), ao Parlamento Europeu, à Cruz Vermelha e, finalmente, ao Secretariado-Geral da ONU, pedindo para evitar “provocações” que possam levar a “uma escalada de tensões”.
O governo da Moldávia, por sua vez, declarou nesta quarta-feira que “as coisas pareciam calmas”, afirmando que “não há risco de escalada”, apesar desta “nova campanha que visa criar histeria na sociedade”.
A Moldávia denunciou os comentários das autoridades da região separatista pró-Rússia da Transnístria. O governo “rejeita a propaganda vinda de Tiraspol”, disse o vice-primeiro-ministro Oleg Serebrian no Telegram, dizendo que a região se beneficia de “políticas de paz, segurança e integração econômica” como parte dos seus laços com a União Europeia.
Adam Jones/Flickr
Bandeiras da Transnístria e da Rússia
Medo de um alargamento do conflito à Transnístria
O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, diz não ter ficado surpreso com o pedido à Rússia. “Isto mostra quão perigosa é a situação, e não apenas para a Ucrânia”, afirmou.
Washington se apressou em dizer que apoia a “soberania” da Moldávia, após o apelo dos separatistas pró-Rússia a Moscou.
Esta declaração dos deputados da Transnístria acontece na véspera do tradicional discurso anual à nação de Vladimir Putin, marcado para esta quinta-feira (29/02). O presidente russo poderá aproveitar a oportunidade para anunciar o envio de tropas russas para esta região nas fronteiras da Europa.
Chisinau e a União Europeia (UE) criticam regularmente a Rússia por tentar desestabilizar a Moldávia, anteriormente na sua zona de influência, mas cujas autoridades estão orientadas para a Europa. Em dezembro de 2023, a UE decidiu abrir negociações de adesão com a Ucrânia e com a Moldávia.
Desde o início do ataque russo à Ucrânia, há dois anos, surgiram receios de um alargamento do conflito. Regularmente surgem conjecturas sobre um possível ataque russo da Transnístria em direção à grande cidade portuária ucraniana de Odessa, no Mar Negro.
No ano passado, as autoridades deste Estado autoproclamado acusaram Kiev de querer atacá-lo, depois de alegarem ter frustrado um ataque, em março, que tinha como alvo seus líderes. Na semana passada, o Ministério da Defesa russo voltou a garantir que a Ucrânia preparava uma “provocação armada” contra a Transnístria, mas sem apresentar provas.
O que é a Transnístria?
Em 27 de agosto de 1991, a República da Moldávia proclamou a sua independência, após a separação da União Soviética. Porém, este pequeno país da Europa do Leste seria muito rapidamente amputado de parte de seu território, já que quatro meses depois, a República Dniester da Moldávia se separava.
Com uma população atual de pouco mais de 500.000 habitantes, composta principalmente por eslavos orientais predominantemente de língua russa, esta região localizada do outro lado do rio Dnieper passou a funcionar muito rapidamente com total independência. A Transnístria, no entanto, tem reconhecimento de outros países. Este território concentra uma grande parte da indústria moldava e tem sido liderado, desde a sua secessão, por líderes pró-Rússia que recusam qualquer aproximação com a União Europeia.
Em 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia, 96% dos eleitores votaram a favor da anexação durante um referendo, prova de que o sentimento pró-Rússia é dominante naquele país. Além disso, desde o início do conflito na Ucrânia, em fevereiro de 2022, ocorreram numerosos incidentes na Transnístria, suscitando receios de uma intervenção de Moscou. Muitos líderes europeus repetem constantemente que a situação na região é muito perigosa.