Documentos desclassificados pela imprensa britânica mostram que o governo do Reino Unido investiu R$ 345 milhões para “a abertura econômica e a infraestrutura sustentável do Brasil”. As verbas começaram a ser destinadas no final de 2018, após a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro.
O “Fundo Bilateral de Prosperidade para o Brasil” foi dividido em quatro partes, mas a parcela voltada para o setor energético foi orçada em R$ 154 milhões, quase metade do total, e vai até o março de 2023.
O dinheiro britânico foi projetado para criar um “mercado de energia mais competitivo e eficiente” no Brasil e pressionar pela “liberalização do mercado de gás”, o que sugere abrir caminhos para a privatização.
No primeiro balanço do projeto, as autoridades britânicas publicaram um relatório indicando a necessidade de “delinear as etapas da entrega do programa de uma maneira que crie e identifique explicitamente as oportunidades para empresas internacionais, inclusive do Reino Unido, entrarem”.
O Brasil integra a lista dos 20 países com as maiores reservas provadas de petróleo do mundo, com 11,89 bilhões de barris, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Com a descoberta do pré-sal, em 2007, e levando em consideração as reservas prováveis e possíveis, o valor quase dobra e atinge 20,273 bilhões de reservas petrolíferas no subsolo brasileiro.
Em maio deste ano, o Brasil estava produzindo 2,8 milhões de barris de petróleo por dia e 132 milhões de m³ de gás, sendo que os campos operados pela Petrobras foram responsáveis por 94,2% da produção total de combustível, de acordo com a ANP.
Apesar da eficiência da maior estatal brasileira, Bolsonaro colocou à venda oito refinarias da Petrobras, que representam mais de 30% da capacidade de refino nacional, e prometeu vender mais estatais se reeleito.
Palácio do Planalto
Bolsonaro reuniu-se com Boris Johnson, em mais de uma ocasião, quando o britânico exercia o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido
Documentos obtidos por meio da Lei de Liberdade de Informação pelo Desclassified UK oferecem detalhes da colaboração do Reino Unido com a extrema direita do Brasil e mostram como o Brasil de Bolsonaro representou uma oportunidade para os negócios britânicos. Autoridades britânicas se reuniram com a família Bolsonaro nos meses que antecederam a eleição de 2018.
Em abril de 2018, após a prisão do ex-presidente Lula (PT), a então secretária do Tesouro do Reino Unido, Liz Truss, veio ao Brasil e teve reuniões com ministros e autoridades sobre assuntos como “privatização”. Em uma das notas do briefing de Truss, observa-se que há um novo “interesse pelo mercado aberto” no Brasil, que “tem enormes reservas de petróleo e gás”.
Truss também visitou o Instituto Millenium, uma think-tank neoliberal fundada em 2005 por Paulo Guedes, atual ministro da economia.
À época da visita de Truss, Guedes já era o principal assessor econômico de Bolsonaro “e defensor da privatização de empresas estatais e da reforma da previdência”. Vários itens de discussão da Truss com o Instituto Millenium permanecem confidenciais.
Os britânicos comemoraram a vitória de Bolsonaro em 2018, dizendo que “houve um impulso maior nas reformas econômicas liberais”, e o presidente de extrema-direita iniciou “um esforço para reformar o setor de energia”.