Procurando uma renovação poucos meses antes das eleições, o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak surpreendeu nesta segunda-feira (13/11) ao chamar de volta ao governo o seu antecessor David Cameron, responsável pelo referendo do Brexit, como chefe da diplomacia.
O boato sobre uma reforma ministerial vinha crescendo há dias no Reino Unido e finalmente ocorreu. A secretária do Interior, Suella Braverman, foi demitida e substituída pelo secretário das Relações Exteriores, James Cleverly, que, por sua vez, será substituído por Cameron, informou Downing Street nesta segunda-feira.
A ex-ministra do Interior é uma personalidade controvertida, explica a correspondente da RFI em Londres, Emeline Vin. Mas a gota d’água que fez transbordar o copo veio na semana passada, quando ela criticou a autorização e a gestão das manifestações pró-Palestina pela polícia de Londres.
Os tumultos do último fim de semana ocorreram à margem das comemorações do Armistício da Primeira Guerra Mundial, em 11 de Novembro, e por parte de grupos de extrema direita, e não nas manifestações pró-Palestina.
Apesar de não ser a primeira polêmica em que Suella Braverman se envolve, Rishi Sunak a manteve na pasta como garantia do apoio da ala mais à direita do Partido Conservador. Mas com o aumento das declarações ofensivas, a ministra passou a ser mais perigosa dentro do governo do que fora dele.
Esta é a segunda vez que Suella Braverman é demitida do Ministério do Interior. Liz Truss a demitiu em 2022 por violar o código ministerial. Na manhã desta segunda-feira, Suella Braverman escreveu que o cargo “tinha sido a maior honra da sua vida” e que se expressaria mais “no devido tempo”.
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Para poder entrar no governo, mesmo já não sendo deputado, David Cameron foi nomeado para a câmara alta do Parlamento britânico
O retorno de David Cameron
James Cleverly toma o lugar de Braverman como ministro do Interior. A mudança de posição desencadeou uma remodelação mais ampla, já que ele era o ministro de Relações Exteriores. O ex-primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi então chamado para ocupar o cargo de Cleverly e está de regresso ao governo assumindo o comando da diplomacia britânica. Uma volta à política tão espetacular quanto inesperada para o homem que desencadeou o referendo do Brexit, em 2016.
Para poder entrar no governo, mesmo já não sendo deputado, David Cameron foi nomeado para a câmara alta do Parlamento britânico, a dos Lordes, novamente segundo Downing Street, que também anunciou que o Ministro das Finanças Jeremy Hunt seria mantido em seu posto.
Apesar de estar longe da política há sete anos, David Cameron disse que costumava “ajudar” Rishi Sunak a enfrentar os “desafios” internacionais, citando a “guerra na Ucrânia” e a “crise no Médio Oriente”.
Embora seja um defensor da manutenção do Reino Unido na UE, em 2013 ele anunciou um referendo de alto risco sobre uma questão que sempre dividiu seu partido. Perdeu a aposta, a credibilidade e a posição de primeiro-ministro.
Na sua autobiografia publicada em 2019, explicou que não se arrepende de ter desencadeado o plebiscito sobre o Brexit, que abriu um período de intenso desgosto no país, e disse que considerou as negociações de saída da UE “difíceis de acompanhar”.
Longe da política, desde então ele é citado pela imprensa britânica principalmente pelo seu papel como lobista da empresa financeira Greensill, cuja falência causou um escândalo político-financeiro.