O reitor da Universidade do Cairo, uma das maiores do Egito, causou revolta nesta terça-feira (18/03) ao dizer que a vítima de um assédio sexual ocorrido ontem (17) no campus era, na verdade, a culpada do ocorrido por usar roupas coloridas. Ele também afirmou que a aluna pode ser punida.
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Na segunda-feira, uma estudante foi assediada sexualmente por um grupo de homens enquanto atravessava o campus da universidade. Em um vídeo amplamente divulgado nas redes sociais, a jovem, usando calças pretas e uma blusa rosa de mangas longas, é escoltada por guardas. Antes disso, ela havia se escondido em um banheiro para escapar dos outros estudantes.
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Nasser Gaber, reitor da universidade, aumentou a polêmica ao declarar a um programa de entrevistas egípcio que o incidente se devia, em parte, ao fato de a aluna esta usando roupas coloridas, em vez de um traje mais conservador. Segundo ele, ela também pode enfrentar punições, assim como os assediadores, e até corre o risco de ser expulsa.
“A garota tirou sua abaya [vestimenta que cobre o corpo] dentro da universidade e apareceu com essas roupas – o que foi uma razão para o que aconteceu. Nós não exigimos um uniforme aqui, mas as roupas devem estar dentro da tradição da nossa sociedade”, disse Nasser à emissora OnTv.
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Ele adicionou, entretanto, que “o erro da garota não justifica o que aconteceu com ela nas mãos desses estudantes. Nós relatamos todo o incidente a uma investigação e tudo está gravado pelas câmeras da universidade”. O reitor afirmou que, desse modo, descobrirá quem é culpado, “a garota ou os estudantes”, e punirá os responsáveis apropriadamente, o que pode significar a expulsão.
Reações
Ativistas de direitos das mulheres reagiram fortemente aos comentários de Gaber. Segundo o jornal The Guardian, Soraya Bahgat, fundadora de um grupo que resgata mulheres de assédio sexual durante protestos, foi “insanamente terrível que o líder da universidade mais importante do Egito diga que as roupas são as culpadas”.
Depois das críticas, Gaber escreveu em seu Twitter que houve um mal-entendido e que ele não estava culpando a aluna pelo ocorrido. “Eu asseguro que isso não é verdade e peço desculpas pelo mal-entendido e repito que eles [que assediaram a garota] serão severamente punidos”, disse.
Mais de 99% das egípcias já sofreram algum tipo de assédio, segundo uma pesquisa feita em 2013 pela ONU Mulheres. Elas relatam que são assediadas independentemente da roupa que estão usando, sejam véus islâmicos ou trajes ocidentais. 91% das mulheres declararam se sentir inseguras ao andar nas ruas em função disso.
Assédio não é considerado crime no Egito, dificultando a abertura de um processo contra os abusadores e a eventual punição. Geralmente, as mulheres são consideradas culpadas nessas situações e, quando tentam registrar queixa, seus casos não são levados a sério pela polícia.