A presidente do Peru, Dina Boluarte compareceu à sede da Procuradoria Nacional nesta terça-feira (07/03) para prestar depoimento no caso que investiga as responsabilidades pelas mortes de 62 civis e um policial durante as manifestações que ocorrem com frequência no país desde dezembro de 2022.
O depoimento foi programado por determinação da Justiça, após várias tentativas frustradas devido a que a própria mandatária insistiu em realizar a declaração através de videoconferência, o que não foi aceito pela corte.
A investigação busca apurar se as mortes durante as manifestações foram provocadas pela extrema violência com que a Polícia Nacional do Peru atuou durante as jornadas de protesto contra o governo de Boluarte, e se essa violência extrema foi consequência de ordens superiores, da presidente e de quatro dos seus ministros.
Segundo a imprensa local, a presidente permaneceu no edifício sede do Ministério Publico por pouco mais de três horas, e deixou o local sem dar declarações aos jornalistas.
Protestos continuam
As manifestações contra o seu governo poucos dias depois da posse de Dina, que assumiu o poder devido à destituição de Pedro Castillo, de quem ela era vice-presidente.
Diversas organizações sociais questionaram a forma como se deu a transição. Algumas delas inclusive defendem o retorno de Castillo ao poder, por considerar que sua destituição foi um golpe de Estado promovido pela direita peruana.
Outras, que não chegam a defender Castillo, tampouco aceitam Boluarte como mandatária legítima, e defendem que se realizem eleições presidenciais ainda este ano para que a população decida quem deve assumir o poder
Essas manifestações continuam sendo frequentes no Peru. Nesta terça-feira (07/03), por exemplo, foram registrados novos atos de protesto nas cidades de Lampa, Puno, San Román, Carabaya, El Collao e em pequenas localidades da região metropolitana de Lima, capital do país.
Presidência do Peru
Dina Boluarte deu declarações à Justiça em investigação sobre sua possível responsabilidade de 62 opositores ao seu governo
Nova preventiva de Pedro Castillo
No mesmo dia, o ex-presidente peruano Pedro Castillo fez uma nova declaração formal à Suprema Corte, no processo que analisa um pedido do Ministério Público para estender a prisão preventiva do seu caso.
Em janeiro, a Justiça peruana determinou que a prisão preventiva de Castillo duraria 18 meses, mas os procuradores pediram ao máximo tribunal que essa medida seja elevada para um prazo de até 36 meses, alegando que há muitos elementos a serem investigados no seu caso.
Diante dessa possibilidade, o ex-mandatário usou seu depoimento para acusar o Ministério Público de promover um “sequestro judicial” contra ele.
“Nego rotunda e categoricamente que sou autor ou que formo parte de uma rede criminosa, como a procuradoria me acusa. Meu único delito foi o de servir ao meu país, e agora devo responder por falsas acusações levantadas com o objetivo de me manter sob sequestro judicial”, reclamou Castillo.
Entenda a crise política no Peru
Castillo assumiu a Presidência do Peru em julho de 2021, após vencer as eleições no mês anterior, com uma chapa que tinha Dina Boluarte como vice-presidente.
Em 17 meses de mandato, ele enfrentou três tentativas de abertura de processo de impeachment, sendo que as duas primeiras terminaram descartadas por falta de apoio legislativo.
No dia 7 de dezembro de 2022, quando enfrentaria a terceira tentativa, Castillo chegou a decretar a dissolução do Congresso e a instalação de um governo de exceção, mas a medida não foi acatada pelas demais instituições, o que o levou a ser destituído e preso naquele mesmo dia, acusado de “atentar contra a ordem constitucional”.
Na mesma jornada, Boluarte tomou posse como presidente.