Líderes africanos se reúnem neste sábado (24/11) em Campala, na República Democrática do Congo, para buscar uma solução ao conflito no país, que ameaça a estabilidade regional, e exigir o fim das hostilidades por parte dos rebeldes do Movimento M23.
Em comunicado conjunto lido pelo ministro ugandense das Relações Exteriores, Sam Kutesa, os líderes da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (ICGLR) traçaram um processo que deveria ser cumprido em um prazo de duas semanas.
Efe
Rebelde congolês membro do Movimento M23 vigia estrada a 45 quilômetros de Goma, capital da província de Kivu do Norte
A cúpula pediu aos insurgentes que se retirem da estratégica cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte, fronteiriça com Ruanda e rica em recursos minerais. Segundo o plano do bloco regional, a Missão da ONU na RDC (MONUSCO) teria que garantir a segurança nas “zonas neutras” entre Goma e os territórios ocupados pela insurgência.
Além disso, o M23, que enviou nesta quinta-feira a Campala o líder de sua ala política, Jean Marie Runiga, para tratar da crise com o chefe de Estado ugandense e o presidente da ICGLR, Yoweri Museveni, deverá “rearmar a polícia, que foi desarmada (após a captura de Goma), para que retome seus obrigações”.
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Além disso, os presentes à cúpula – entre eles, o presidente da RDC, Joseph Kabila – ordenaram ao M23 que “deixe de propagar a guerra imediatamente e de falar sobre a derrocada de um governo eleito”, em referência às ameaças insurgentes para derrubar o Executivo de Kinshasa.
“Força multipartidária”
Também foi definido na reunião, que durou menos de três horas, o desdobramento de uma “força multipartidária” formada por tropas de um contingente neutro, do Exército da RDC e do próprio M23, apesar de não terem dado detalhes sobre a mobilização desses soldados.
Sobre isso, o secretário-executivo da ICGLR, Ntumba Luaba, declarou à Rádio Okapi, emissora promovida pela MONUSCO, que a África do Sul ofereceu apoio logístico e que a Tanzânia tem um batalhão preparado para entrar em ação. A cúpula também reivindicou que o governo da RDC “escute e resolva” as queixas do M23.
Reação dos rebeldes
Em reação às conclusões da reunião, o porta-voz do M23, Amani Kabashi, disse neste sábado à Agência Efe que a iniciativa dos líderes da ICGLR é “bem-vinda, embora devam entender que a opção militar fracassou” e que terão que buscar “outra solução”.
Uma das ausências mais sentidas foi a do presidente de Ruanda, Paul Kagame, que decidiu se ausentar de última hora e foi representado por sua ministra das Relações Exteriores, Louise Mushikiwabo. No último dia 21, Kagame já havia se reunido – em outra reunião do órgão regional- com Kabila e Museveni para abordar a crise, que provocou a fuga de milhares de pessoas de seus lares.
Vários relatórios da ONU assinalam que Ruanda, principalmente, mas também Uganda, são atores no conflito em apoio dos rebeldes, embora ambos os países neguem categoricamente sua participação.
O M23 é formado por soldados congoleses amotinados e supostamente fiéis ao rebelde Bosco Ntaganda, procurado pela Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade. A RDC se encontra imersa ainda em um frágil processo de paz após a segunda guerra do Congo (1998-2003), que teve a participação de vários países africanos, e tem desdobrada em seu território a maior missão da ONU.