Em uma das cenas mais clássicas do cinema, o ator Arnold Schwarzenegger congela o protótipo T-1000 (interpretado por Robert Patrick) e, antes de acionar sua arma e destruir para sempre esta ameaça enviada do futuro, dispara: “Sayonara, baby”.
Sim, você leu certo, a reportagem de Opera Mundi não escreveu errado. É desta forma – Sayonara, baby – que milhões de espanhóis conhecem a cena do filme “O Exterminador do Futuro 2” que ficou mundialmente famosa pelo “Hasta la vista, baby” do ator-fisiculturista.
Na Espanha, “Hasta la vista, baby” virou “Sayonara, baby”
Na Espanha, a dublagem tem mais presença nas salas de cinema que na maioria dos países da Europa. Segundo dados da FECE (Federação de Cinemas da Espanha), 95% das salas que exibem filmes estrangeiros utilizam versões dubladas, deixando apenas 5% para as versões originais legendadas. Esta grande diferença entre as duas opções e em relação aos países vizinhos, além de um suposto benefício linguístico das versões legendadas, foram os motivos destacados pelo deputado Toni Cantó para defender no Congresso espanhol o fim da dublagem nos cinemas do país.
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O discurso do político do UPyD (União, Progresso e Democracia) ganhou apoio de algumas personalidades dentro da Espanha, como o premiado diretor Carlos Saura, que, assim como Cantó, afirma que com a dublagem o espectador não pode desfrutar da atuação dos atores, com seus sentimentos e entonações.
“Eu sou partidário dos filmes em versão original, entre outras coisas, porque também sou ator e acho que, da mesma maneira que é impossível pensar em um disco dos Rolling Stones dublado por alguém em espanhol, também é impossível pensar que eu tenho que escutar a alguma outra pessoa em vez de escutar a Meryl Streep ou ao Marlon Brando”, diz o deputado em entrevista a Opera Mundi.
Divulgação
Deputado Toni Cantó defende o fim da dublagem nos cinemas da Espanha
Cantó ainda afirma que os países que dão preferência às versões legendadas acabam formando pessoas com maior habilidade para aprender outros idiomas. “Eu acho que é óbvio que quanto mais tempo nós recebemos informações em um idioma, mais estaremos reforçando nosso aprendizado nele”, explica o parlamentar.
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Uma recente pesquisa de uma empresa de marketing no Reino Unido corrobora a afirmação de Cantó. Cruzando dados entre o número de pessoas que dominavam línguas estrangeiras e os países que estimulam as versões legendadas no cinema e na televisão, o estudo chegou à conclusão que os países com mais programas legendados possuem uma população com mais pessoas que falam outros idiomas.
Críticas
O fim da dublagem nos cinemas também causou grande rechaço por parte de algumas associações. O porta-voz da FENE, Borja de Benito, defendeu a dublagem afirmando que os espectadores espanhóis possuem duas opções na hora de escolher como preferem ver cada filme. “É uma indústria que gera empregos. Existem salas em versão original e com dublagem, as pessoas têm opção. As salas com versões legendadas não são as mais cheias”, justifica o porta-voz.
Vídeo compara a dublagem espanhola com o original, no filme “O Exterminador do Futuro 2”
O presidente da Adoma (Associação de Dubladores de Madri), Adolfo Moreno, também defende que o melhor para os espectadores é ter cada vez mais opções. “Parece-nos um debate sem sentido. A dublagem é uma opção a mais. Achamos que se deve centrar o debate nos avanços tecnológicos que permitam que cada um possa escolher a maneira que ache mais adequada”, afirma.
Em relação ao aprendizado de idiomas através de filmes ou programas legendados, Moreno diz acreditar que ninguém consegue dominar uma língua assistindo à televisão ou indo ao cinema. “Acho que os idiomas se aprendem nas escolas e nos países de origem. Caso contrário, nos países que só têm programas e filmes em versão legendada as pessoas falariam todas as línguas”, argumenta.
Apesar de defender a dublagem, Moreno assume que este não é o método perfeito. “O ideal seria que todos pudessem entender tudo e que só existisse uma versão original sem legendas, mas não é assim. Com dublagem, os espectadores perdem o trabalho dos atores e com legendas, não podemos reparar na fotografia, na cenografia, na iluminação. Mas no fim, a dublagem é uma maneira de ajudar as pessoas a verem os filmes, aproxima o cinema das pessoas que não sabem ler”, explica o presidente.
Reprodução
Mapa mostra países da Europa onde filmes são dublados, legendados ou ganham sobreposição de voz