Nos círculos das embaixadas em Washington, vários diplomatas latino-americanos acreditam que, nos últimos anos, o novo embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, sempre pareceu alguém deslocado.
“Ele trabalhou para um governo que sabia que estava cometendo erros terríveis em matéria de política externa. Mas foi ficando, tentando fazer com que as coisas não piorassem. Agora, acho que ele deve sentir-se um pouco mais livre”, comentou um deles.
Mas o analista Ricardo Guanipa, especializado em Venezuela, discorda. “Shannon foi um bom diplomata para o governo Bush. Enquanto este virava as costas para a América Latina, ele passava pela região tentando disfarçar para evitar as criticas”, afirmou.
É por isso que, na sua opinião, o norte-americano também é conhecido por não ter estabelecido grandes amizades entre os seus colegas da região. Guanipa considera Shannon como “sinônimo do esquecimento de Bush para com a América Latina”.
Antes mesmo da posse de Obama, Shannon surpreendeu muita gente ao adiantar o novo rumo que a Casa Branca pensa dar às relações com a região, e se referiu a Equador, Bolívia e Venezuela como países que, nos últimos anos, mudaram significativa e historicamente. “Todo diálogo deve respeitar essas transformações”, ponderou.
“É uma declaração difícil de assimilar ao vir de uma pessoa como Shannon, que serviu a uma política contrária desenhada pelo governo anterior, e que assistiu à forma como esses países trataram os diplomatas norte-americanos”, afirmou Guanipa, para quem o diplomata “deveria ter ficado calado”.
Reaproximação com Cuba
Até no caso cubano, Shannon – em meio a uma administração totalmente comprometida com as exigências dos exilados, eleitoralmente poderosos – deixou bem claro que o embargo econômico não era o mais importante para estimular uma mudança política na ilha. E também não fez nenhum esforço para convencer o resto do mundo a aderir.
Em meados do ano passado, quando a União Europeia decidiu suspender as sanções contra Cuba pela prisão dos dissidentes na primavera de 2003, Shannon manifestou compreensão e disse à imprensa espanhola que os limites desenhados pela UE eram os suficientes para poder trabalhar em conjunto.
Em abril, Shannon deu mostras de trabalhar sob todo tipo de circunstância, quando Obama suspendeu as restrições de envio de dinheiro e viagens aos cubano-americanos, e o secretário assistente reuniu-se com o chefe da missão diplomática cubana em Washington, o ex-embaixador no Brasil Jorge Bolaños, para explicar as ideias do presidente.
Apreciador das nuvens
Nos corredores do Departamento de Estado, muitos diplomatas não escondem que o novo embaixador em Brasília prefere trabalhar nos bastidores a ser protagonista de polêmicas e controvérsias públicas.
“Vocês não vão vê-lo em muitas recepções ou coquetéis. Mas, sim, nos churrasquinhos de fim de semana de Lula ou em jantares de família com Celso [Amorim]”, acrescentou um colaborador seu.
Cerca de quatro anos atrás, em Miami, Shannon sentou-se para conversar com um grupo de jornalistas. Quando perguntaram o que ele achava do trabalho, parou para pensar por um momento, olhou para o céu radiante e disse:
“Não gosto muito deste solzinho, não. A chuva é muito mais convidativa. As nuvens nos obrigam a ser mais imaginativos”.
Leia a primeira parte:
Thomas Shannon: a opção pelo diálogo
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