As TVs e rádios não pararam de entrevistar, na manhã deste dia 1º de janeiro de 2023, aquilo que no jargão jornalístico se convencionou chamar de “populares”. As pessoas do povo que vieram a Brasília, dos mais diferentes lugares do país, para a terceira posse de Lula na presidência.
Da rodoviária ao Congresso, as pessoas iam chegando, comprando bonés contra o sol inclemente e capas de chuva que se provariam inúteis: num dos palcos menores do chamado Festival do Futuro, o locutor, lá pelas 11h, brincou: não vencemos só os bolsonaristas, não vencemos só os fascistas, vencemos a meteorologia”.
As chuvas dos últimos dias em Brasília não se repetiram. O céu ficou aberto o tempo todo. E as pessoas iam chegando e lotando a Esplanada dos Ministérios. O vermelho era a cor predominante. Algumas camisetas verde-e-amarelas apareciam aqui e ali, sempre customizadas para indicar o apoio ao presidente petista. Um fila enorme, encerrada às 13h50 minutos, se formou para aqueles que decidiram adentrar, sem comida ou água, à Praça dos Três Poderes, para assistir o discurso de Lula no Parlatório.
Tantos artistas queriam participar da festa que cada um apresentava apenas uma música, retomando o repertório clássico da esquerda dos últimos cinquenta anos. Na plateia, gente de cadeira de rodas, muletas, bichas, pretos, pobres, indígenas, gente bronzeada e até mesmo o bom e velho homem branco cis hétero com a ambígua “faixa presidencial” com os dizeres “O papai voltou (de um lado) e “Lula presidente” do outro.
Haroldo Ceravolo Sereza
Bandeira LGBTQIA+ mesclada com a brasileira, usada como capa por uma pessoa presente na posse de Lula
A insistência do vermelho, que era expulso das ruas em 2013, mostrou que a base de Lula tem na cor a simbologia forte de um sonho socialista, repleto de equidade e igualdade. O vermelho voltou, o vermelho tá ON, o vermelho venceu, gritou visual da posse. Isso não significava, no entanto, ignorar a diversidade, e uma bandeira do Brasil, mesclando o vermelho às cores das bandeiras LGBT, carregada por um manifestante, completava o quadro de podemos pensar diferente.
Os discursos de Lula, no Congresso e no Parlatório, dialogaram diretamente com essa base, que vibrou nos momentos em que Lula afirmou “Ditadura Nunca Mais, Democracia Sempre” no Parlamento e que fez até mesmo Alckmin chorar no Parlatório. Lula de gravata azul e Alckmin de gravata vermelha, aliás, no Parlatório, depois da passagem de faixa simbólica do povo para Lula, representavam a possibilidade de uma refundação do país, superando definitivamente o passado escravista e a tutela militar. A multidão gritou “Sem Anistia”, retomando a história da ditadura militar e a ligando ao arbítrio dos anos Temer e Bolsonaro.
Lula subiu a rampa, não se ouviram tiros, não houve violência. Bolsonaro, com sua fuga para Miami, na prática uma traição à Pátria, coroou o compromisso do povo com o Brasil. Lula terá agora a missão de transformar toda essa força popular em motor de desenvolvimento, democracia e igualdade. A tarefa não será fácil, mas a massa presente na posse mostra que ele não está só e, mais que isso, que ele deve sua eleição a sua força, claro, mas também à daqueles que não se deixaram render frente às adversidades, violências e ameaças golpistas.
(As fotos da galeria abaixo são de Haroldo Ceravolo Sereza)