O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que a Casa conduzirá uma investigação interna contra o assessor internacional do presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins, que fez um gesto ligado a supremacistas brancos durante uma sessão legislativa nesta quarta-feira (24/03).
Filipe Martins estava no Senado acompanhando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Em audiência, o ministro de Bolsonaro dava explicações aos senadores sobre a atuação do Itamaraty na compra de vacinas contra covid-19.
Martins foi filmado pelas câmeras da TV Senado fazendo o gesto enquanto estava atrás do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, que discursava. O assessor juntou os dedos polegar e indicador e esticou os outros três dedos, em um sinal que pode significar “ok”, “vai tomar no cu” ou “WP”, em referência ao termo “White Power” (poder branco) utilizado por grupos supemacistas brancos.
Nas redes, Martins se defendeu e disse que estava apenas “ajeitando o próprio terno”. Entretanto, não é a primeira vez que o assessor faz referência a grupos fascistas e supremacistas. Em suas redes sociais, Martins já publicou o trecho de um poema utilizado em um manifesto divulgado por Brenton Tarrant, autor de um massacre na Nova Zelândia contra muçulmanos em março de 2019. Durante julgamento, Tarrant chegou a fazer, diante das câmeras, o mesmo gesto que Martins fez no Senado nesta quarta-feira.
Segundo a Liga Anti-Difação (ADL, na sigla em inglês), uma das principais entidades de combate ao antissemitismo dos EUA, o gesto feito por Martins ganhou significado relacionado a supremacistas brancos após 2017.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediu que Filipe Martins fosse retirado das dependências do Senado e autuado pela Polícia Legislativa. “Isso é inaceitável, basta o desrespeito que esse governo está tendo com mais de 300 mil mortos a essa altura”, disse o senador.
“Não aceitamos que um capacho do presidente da República venha ao Senado durante a fala do presidente do Senado nos desrespeitar. Não existem mais limites a serem ultrapassados”, disse.
Jean Paul Prates, senador do PT do Rio Grande do Norte, também denunciou a atitude de Martins e prometeu investigações. “Não sei nem que gesto importa tanto, se é um neofascista, se é uma ofensa depreciativa, o fato é que aqui não é local, nem momento para fazer gracinha, pagar aposta para ninguém. Não sei o que é isso aí, mas vai ser investigado. Certamente, o presidente não vai deixar isso aí acontecer dessa forma”
Ao final da sessão, o presidente do Senado disse que “a presidência não fará prejulgamentos nem estabelecerá qualquer tipo de preconceito em relação ao fato e determina à Secretaria-Geral da Mesa que cuide de colher as informações necessárias – inclusive as imagens da sessão – e as encaminhe à Polícia Legislativa do Senado Federal para instauração de procedimento próprio”.
Estupefatos, tomamos notícia do gesto do assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República durante sessão no Senado Federal. Semelhante ao sinal conhecido como OK, mas com 3 dedos retos em forma de “W”, o gesto transformou-se em um símbolo de ódio. pic.twitter.com/gkvjsbOXm6
— Museu do Holocausto (@MuseuHolocausto) March 25, 2021
Reprodução
Filipe Martins fez gesto com a mão durante audiência sobre atuação do chanceler Ernesto Araújo na pandemia
Museu do Holocausto condena gesto supremacista
O Museu do Holocausto em Curitiba repudiou o gesto de Martins com uma nota publicada nesta quarta-feira e classificou a ação como “atos que ultrapassam qualquer limite de liberdade de expressão”.
“É estarrecedor que não haja uma semana que o Museu do Holocausto de Curitiba não tenha que denunciar, reprovar ou repudiar um discurso antissemita, um símbolo nazista ou ato supremacista. No Brasil, em pleno 2021”, disse.
A entidade, ainda citou a classificação da ADL dizendo que “o símbolo se tornou uma ‘tática popular de trolagem’ por indivíduos da extrema direita, que postam fotos nas redes de si mesmos fazendo o gesto”.
“O Museu do Holocausto, consciente da missão de construir uma memória dos crimes nazistas que alerte a humanidade dos perigos de tais ideias, reforça que a apologia a este tipo de símbolo é gravíssima. Nossa democracia não pode admitir tais manifestações”, afirmou.
É estarrecedor que não haja uma semana que o Museu do Holocausto de Curitiba não tenha que denunciar, reprovar ou repudiar um discurso antissemita, um símbolo nazista ou ato supremacista. No Brasil, em pleno 2021. São atos que ultrapassam qualquer limite de liberdade de expressão
— Museu do Holocausto (@MuseuHolocausto) March 25, 2021
Senadores pedem que Ernesto Araújo renuncie
A audiência em questão serviu para cobrar explicações ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre a má gestão internacional do Brasil durante a pandemia.
Diversos senadores pediram a renúncia do chanceler pela má atuação do Itamaraty nas negociações por vacinas contra o novo coronavírus.
Entre as críticas feitas a Araújo, foram citadas a viagem a Israel para negociações de remédio sem eficácia comprovada, as agressões de pessoas ligadas ao presidente contra o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, e a demora injustificada go governo em reconhecer Joe Biden como presidente dos EUA.