Fora
do Peru, não se ouvia falar de Sendero Luminoso (SL) desde 2003
quando sequestraram a 71 trabalhadores da empresa argentina Techint
que construía um gasoduto em Ayacucho. Onze anos antes, em 1992, foi
preso o líder fundador Abimael Guzmán e a cúpula guerrilheira. Mas
o grupo não tinha sido extinto, apenas estava recolhido na remota
região de Vizcatán, na região centro-sul do país.
Naquela
época, Abimael Guzmán assinou um chamado “acordo de Paz” com o
governo do então presidente Fujimori, em troca de alguns benefícios
nas condições de prisão. Anos mais tarde, buscou a anistia dos
presos da organização armada, em vão. Em 1999 foi detido o numero
dois de SL, supostamente com informação filtrada pela cúpula desde
a cadeia. Assim, os senderistasque não foram presos se dividiram em duas facções: os seguidores
de Guzman e os radicais de ‘Prosseguir’ (a luta armada), que
ficaram em Vizcatán.
Coca,
madeira e combustível
Hoje a
facção radical de SL tem se consolidado na região conhecida como
Vale dos Rios Apurímac e Ene (VRAE), na fronteira dos departamentos
Ayacucho, Cusco, Junín e Huancavelica, onde o cultivo e
processamento de coca e a venda ilegal de madeira e combustível faz
parte das atividades do grupo. No VRAE, o grupo teria de 300 a 600
pessoas e contaria com lança-foguetes para ataque antiaéreo,
lança-granadas e fuzis Ghalil.
Sendero é
protetor dos “mochileros”,
– jovens que carregam droga até a costa-, mas também tem cultivos
de folha de coca e poças de maceração. Após a queda da cúpula do
grupo guerrilheiro em 1992, nem o governo de Fujimori, nem o de
Alejandro Toledo enfrentaram a facção restante. Eram poucos,
estavam longe da capital. Em 2006, o presidente Alan García anunciou
que enfrentaria o movimento, mas demorou dois anos para começar as
ações militares. Além disso, não aplicou um plano social de apoio
à população pobre, dedicada ao negocio ilegal da coca e madeira.
Deu tempo para o grupo armado sair do seu bastião.
Leia mais:
Peru afronta problemas na luta contra Sendero Luminoso
Confiança
recuperada
“Deixaram
o Sendero retomar espaço”, avaliou recentemente o comandante geral
do Exército numa entrevista à imprensa local. As ações armadas
ainda não produziram nenhuma captura de membros do grupo
guerrilheiro. O Comando Conjunto das Forças Armadas diz que há no
VRAE 2.300 homens e quatro helicópteros. Mas os soldados precisam
helicópteros blindados e coletes à prova de bala para atacar.
Segundo
o especialista em segurança e advogado Rubén Vargas, o Sendero
Luminoso faz parte da cadeia do narcotráfico, mas com um objetivo
maior: “é uma organização política. Sendero recuperou a
confiança da população apesar dos crimes do passado. Até decidem
quem são as autoridades em alguns distritos”. Ele diz ao Opera
Mundi que “Sendero voltou a provocar uma identificação da
população camponesa. Trabalhou pacientemente todos esses anos
enquanto o Estado estava ausente”. Em Huancavelica e Ayacucho já
em 2004, os “senderistas” asseguravam à população que os
assassinatos foram erros que não repetiriam, chegavam às
comunidades para se abastecer de alimentos e pagavam com dólares.
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