Em meio a protestos de estudantes, o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, afirmou nesta segunda-feira (18/03) que o recém-anunciado programa de demissões voluntárias do governo deve ser encarado como “uma oportunidade e não como uma ameaça para os trabalhadores”. O chefe de governo deu essa polêmica declaração, sob vaias, na abertura de um ciclo de conferências sobre a reforma do Estado, no ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas), em Lisboa.
O governo vai apostar na política de rescisões voluntárias (“amigáveis”, em Portugal) para diminuir – ou “ajustar”, nas palavras do premiê – o número de funcionários públicos.
Agência Efe
Governo português será alvo de protestos nesta segunda-feira
O primeiro-ministro adiantou que “apenas sairão os trabalhadores do Estado que assim desejarem” e explicou que contar só com as aposentadorias para resolver o problema do número de efetivos “não basta”.
Passos Coelho adiantou que o governo vai também proceder a um “levantamento exaustivo de todos os suplementos salariais que são pagos aos funcionários públicos”, justificando que, com esta medida, se pretende acabar com “hábitos perniciosos que se mantiveram durante décadas e que tantos danos causaram”.
Na mesma ocasião, Passos disse ainda ambicionar que a Administração Pública do futuro tenha “as melhores práticas de gestão em todas as suas dimensões” e que “se constitua como grande parceiro da economia e da sociedade civil”.
Nas redes sociais, a declaração de Passos Coelho já começou a repercutir: muitos internautas sugerem que devem rescindir com o governo e que o próprio premiê deve aproveitar a oportunidade para pedir dispensa e desaparecer da função pública.
Também em Lisboa, a plataforma popular 15 de Outubro se aglomera em frente ao Ministério das Finanças para protestar contra o encarregado da carga, Vítor Gaspar, e exigir a demissão do governo, segundo informa a Agência Lusa. A manifestação ocorrerá às 18h locais (15h de Brasília).
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Uma das líderes do movimento, Alexandra Martins informou que a concentração, que reúne vários movimentos sociais contra as políticas de austeridade do governo, tem como lema “4 bilhões de razões para se demitirem”.
“Quatro bilhões parecem-nos mais do que razões suficientes para protestar e dizer a Vítor Gaspar para realmente ter cuidado com o que vai anunciar. O povo não aguenta mais, estamos no limite e a prova está o exemplo da Grécia, Espanha e mais recentemente o Chipre”, explicou.
Alexandra salientou que, apesar de não se falar no assunto, “é bom lembrar que a Grécia está à beira de uma guerra civil” e a Espanha está próxima de ficar numa situação social como a dos gregos.
“É verdade que ainda não conseguimos demissão do governo com as manifestações, mas a mobilização tem sido cada vez maior, o que demonstra que as pessoas estão mais conscientes de que estão sendo roubadas e que pode acontecer uma coisa parecida ao Chipre [imposto sobre depósitos], o que é um roubo descarado”, disse.
Na opinião de Alexandra, já foram “quebradas todas as fronteiras que pudessem existir em relação à decência na atuação da grande finança”.
Na origem da concentração de hoje está, de acordo com a Plataforma 15 de Outubro, o aumento do desemprego, da fome, da miséria e da atuação de um “governo que, mais uma vez, mostrou a sua cara ao anunciar mais demissões na função pública”.
Para a Plataforma 15 de Outubro, a política do governo “é incoerente e vai levar o país à bancarrota”. Segundo ela, a maioria das pessoas que conhece já não consegue comer todos os dias ou então faz apenas uma refeição diária.
“É impossível saber quantas pessoas vão participar na ação de hoje. Não estamos falando de uma manifestação como a de 2 de Março [quando milhares saíram às ruas para pedir a demissão de Passos Coelho]. Hoje será um protesto mais simbólico, mas contamos ter apoio suficiente para deixar uma mensagem séria ao Gaspar”, concluiu