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O país mais novo do mundo, em que mais de nove mil crianças foram forçadas a lutar na guerra civil, está à beira de uma catástrofe, segundo a chefe de direitos humanos da ONU, Navi Pillay. Ela também criticou o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, e o líder dos rebeldes, Riek Machar, por sua aparente falta de preocupação com a ameaça de fome depois de quatro meses de conflito.
“A Unicef [Fundo das Nações Unidas para Crianças] relata que mais de nove mil crianças foram recrutadas pelas forças armadas de ambos os lados”, afirmou Pillay em coletiva de imprensa na capital do Sudão do Sul, Juba, nesta quarta-feira (30/04). “Trinta escolas foram tomadas por forças militares e houve mais de 20 ataques a clínicas e centros de saúde”.
“Muitas mulheres e meninas foram estupradas, muitas vezes brutalmente e às vezes por diversos homens. Outras foram sequestradas. Crianças foram mortas em ataques indiscriminados a civis de ambos os lados. O quanto a situação deve piorar antes que os que podem acabar com esse conflito, especialmente o presidnete Kiir e o senhor Machar, decidam fazê-lo?”, questionou a chefe de direitos humanos.
Pillay afimou que, além de se encontrar com Kiir, ela também foi enviada para investigar mortes recentes em Bor, onde habitantes da etnia predominante Dinka atacaram uma base da ONU em que pessoas da etnia Nuer estavam abrigadas. Dezenas foram mortos.
Quando chegou ao país, ela disse ter se surpreendido com a aparente falta de preocupação de Kiir e Machar com a fome. “A reação a um pedido de 30 dias de tranquilidade para que as pessoas pudessem ir para casa e plantar – apesar de que pode ser tarde demais, com o fim das chuvas – foi morna: os dois líderes disseram que o fariam se o outro também fizesse e em seguida deixaram claro que não confiavam nas palavras um do outro”, relatou.
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“Se a fome se consolidar mais tarde no ano, e as agências humanitárias temem profundamente que ela vai, a responsabilidade por isso recairá diretamente sobre os líderes do país, que prometeram cessar as hostilidades em janeiro e não o fizeram”, acrescentou Pillay.
Intervenção
Em Adis Abeba, na Etiópia, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou que “a matança deve parar” e que seu país e as nações da África Oriental estão comprometidos a enviar uma força militar predominantemente regional o mais breve possível para interromper o derramamento de sangue no Sudão do Sul.
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Conflito no Sudão do Sul começou em dezembro do último ano e já deixou milhares de mortos
Etiópia, Quênia, Burundi, Djibuti e Ruanda concordaram em contribuir com soldados para essa força. Não ficou claro qual seria o papel dos Estados Unidos na intervenção. Segundo Kerry, os soldados enviados formariam “uma força legítima que tem habilidade de ajudar a promover a paz” e que “precisa entrar em ação o mais rápido possível”. Ele deve viajar a Juba ainda nesta semana.
O Sudão do Sul conseguiu independência do Sudão em 2011. A guerra civil começou em dezembro do ano passado, entre os apoiadores de Kiir e os simpatizantes de Machar, ex-vice-presidente. Desde então, milhares de pessoas morreram, muitas em ataques étnicos.