O empresário Srettha Thavisin foi nomeado primeiro-ministro da Tailândia nesta terça-feira (22/08), horas depois do ex-líder de seu partido Thaksin Shinawatra ter sido detido após regresso ao país. O ex-premiê esteve 15 anos no exterior para escapar de condenação.
O bilionário de 74 anos, que esteve no poder entre 2001 e 2006, antes de ser deposto por um golpe, deverá passar oito anos atrás das grades por três casos julgados na sua ausência, relacionados com sua gestão do país e com sua antiga empresa Shin Corp, informou a Suprema Corte.
Ao todo, as condenações somam dez anos, mas duas das penas parecem incompatíveis. O regresso ao poder do partido associado à sua família, o Pheu Thai, poderá, no entanto, permitir-lhe esperar um ajuste ou uma redução da pena.
Acusado de corrupção pelos seus detratores, o magnata das telecomunicações foi levado sob escolta policial à Suprema Corte, pouco depois de chegar ao aeroporto Don Mueang, em Bangkok, onde seu jato particular vindo de Singapura aterrizou por volta das 9h locais.
Com sorrisos, danças e canções, o ambiente era festivo no aeroporto, onde centenas de apoiadores, vestidos de vermelho, o aguardavam para dar as boas-vindas. Ele então se curvou diante de um retrato do rei Maha Vajiralongkorn, em frente ao qual colocou uma guirlanda de flores como sinal de respeito.
Um único candidato
Seu regresso coincide com a nomeação do primeiro-ministro no Parlamento, três meses depois das eleições legislativas de 14 de maio, que infligiram um duro revés aos generais no poder durante quase dez anos.
Único candidato ao cargo, sob a bandeira do Pheu Thai, Srettha Thavisin concorreu à frente de uma controversa coligação que mistura formações pró-democracia e pró-exército, mas que não inclui o Move Forward, partido reformista que venceu as eleições. Esta aliança, no entanto, permite a manutenção do governo militar que, em troca, teria tolerado o regresso de Thaksin Shinawatra.
O antigo proprietário do clube de futebol Manchester City polarizou a vida política por mais de 20 anos entre os “vermelhos”, seus apoiadores, e os “amarelos”, conservadores leais à monarquia.
Wikicommons
Empresário Srettha Thavisin foi nomeado primeiro-ministro da Tailândia nesta terça-feira (22/08)
Um influente articulador
Thaksin há muito denuncia processos que visam removê-lo do poder, em favor das elites militares monarquistas. No exterior, ele continuou a ser um influente articulador por meio do partido Pheu Thai, controlado por sua família, embora as últimas pesquisas mostrassem sinais de declínio.
Nesse contexto, Srettha Thavisin, um empresário de 60 anos, foi proposto ao Parlamento para se tornar primeiro-ministro. Os deputados rejeitaram Pita Limjaroenrat, líder do Move Forward, em julho, devido a seu programa de reformas considerado muito radical face à monarquia.
Segundo classificado nas eleições legislativas, o Pheu Thai, na oposição nos últimos anos, tem tentado contornar os bloqueios de um sistema nas mãos do establishment conservador, montando uma coligação de 11 partidos que inclui formações favoráveis ao governo militar cessante.
Mas esta coligação traiu sua promessa de nunca se unir aos militares e irritou alguns dos seus apoiadores que, assim como a maioria dos tailandeses, votaram pela sua expulsão do poder.
Ao aliar-se ao seu antigo adversário, o Pheu Thai espera um gesto do establishment a favor de Thaksin, cujo estado de saúde exige supervisão médica, e poderá rever seus planos se nada for feito pelo antigo líder.
“Falsas promessas”
“Se o rei não perdoar Thaksin em um certo prazo, o Pheu Thai poderá começar a questionar a coligação a que se juntou com base em falsas promessas”, avalia o analista político Aaron Connelly.
A apreciação de um pedido de perdão real pode levar de um a dois meses, detalhou um funcionário da administração penitenciária. Detido em confinamento solitário em uma prisão de Bangkok, Thaksin poderá receber visitas da sua família em cinco dias.
Os militares respondem por dois golpes de Estado contra primeiros-ministros da família Shinawatra: Thaksin, em 2006, e a sua irmã Yingluck, em 2014, a última líder civil eleita até o momento.
Srettha Thavisin, um novato em política, garantiu que não iria interferir na lei sobre lesa-majestade, um assunto tabu na Tailândia, em que o rei goza de um estatuto de quase divindade.
A Tailândia, que precisa de reformas estruturais, tem uma taxa de crescimento inferior à dos seus vizinhos indonésios ou vietnamitas, e sofre de incertezas relacionadas a seu futuro político.