Com o terremoto da semana passada, o Haiti perdeu seu maior tesouro artístico, expoente de uma das maiores coleções de arte naif do mundo, o Museu de Arte Nader.
“O prejuízo é enorme, insubstituível. Desapareceu o principal tesouro cultural do Haiti, a memória artística de todo um povo”, afirmou Georges Nader Jr., filho do criador do museu, o mais importante do país.
De um total de 15 mil obras, Nader apenas conseguiu recuperar umas 400. As instalações guardavam peças preciosas de autores como Philomé Obin, G. Valcin, Hector Hyfolite, Wilson Boigand e Bernard Sejourné, entre outros, expoentes do melhor da arte popular haitiana.
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Nader contou que seu pai, quando soube da tragédia, nem sequer quis ir ao museu ver como ficou. “Ele me pediu que fosse lá e tratasse de regatar o possível. Meu pai dedicou a vida inteira ao museu e a apoiar todos os criadores”, contou o filho ao jornal espanhol La Vanguardia.
Nader, como muitos haitianos nestes dias, não vê futuro para o país. “Quem vai reconstruí-lo? Às vezes penso se não seria melhor mudar a capital para outro lugar. Temos milhares de cadáveres entre os escombros”, acrescentou.
Além disso, “toda a gente aqui ficou sem trabalho e ninguém gosta de viver da caridade pública”, afirmou Nader.
Exemplar de pintura naif tirado do blog de Andrea Savoia
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A arte naif, que vem da palavra francesa naïve, que significa ingênuo, se caracteriza pela falta de elementos e técnicas acadêmicos. São recorrentes temas cotidianos e populares, retratados em cores fortes e primárias, geralmente com pouco uso da perspectiva, ou nenhum.
A origem dessa modalidade de arte é ligada ao Salon des Independents (Salão dos Independentes), realizado na França em 1886, quando Henri Rousseau mostra pela primeira vez seus quadros realizados por hobby. O pintor recebe o reconhecimento de profissionais como Paul Gauguin e Pablo Picasso. Em 1928, é realizada em Paris a primeira exposição daquele estilo.
A arte se difundiu por vários países na década de 20, mas pode ser encontrada principalmente em países como Haiti, França, Brasil, Itália e a antiga Iugoslávia.
Fundado em 1966 por George Nader, o Museu de Arte Nader, em Porto Príncipe, se orgulhava de ser o maior do mundo em arte naif, segundo consta no site oficial. Havia uma filial em Miami, fechada em 2006 depois de três anos de funcionamento. No Brasil, o Mian (Museu Internacional de Arte Naif), no Rio de Janeiro, também se diz o “maior e mais completo”.
Fachada do Museu de Arte Nader antes do terremoto, em foto tirada do site oficial
* O repórter está a bordo do porta-aviões da marinha norte-americana USS Carl Vinson; colaborou Sarah Germano, da redação.
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