Considerado pelas autoridades como a maior tragédia do sistema penitenciário na história do Chile, o incêndio na prisão de San Miguel, em Santiago, deixou um saldo total de 81 mortos. Momentos após presos avisarem por telefone familiares e forças de segurança de que havia fogo no edifício, houve denúncias de que a entrada dos bombeiros não foi autorizada, o que inevitavelmente teria resultado em um maior número de vítimas fatais. De acordo com um dos presos, cuja identidade foi mantida em segredo, se a administração da prisão tivesse aberto as portas, todos estariam a salvo.
Efe
Policiais amparam familiar de vítima do incêndio na prisão de San Miguel
“Aqui, das cinco da tarde até as nove da noite não há mais funcionários. A partir desse horário, aqui vira outro mundo”, contou o preso à Rádio Cooperativa, do Chile. “Não tínhamos nada. Vivemos em uma situação de extrema pobreza. Toda a infraestrutura é feita por nós: eletricidade, água, tudo”, completou. Segundo o detento, nenhuma das melhorias prometidas pelo governo aconteceu: “nos prometeram diversos benefícios, mas não recebemos nenhum. A polícia quer encobrir o que aconteceu aqui. Se tivessem aberto as portas, todos estariam a salvo.”
O Corpo de Bombeiros, porém, negou que a polícia tenha dificultado a entrada. “Eles facilitaram o trabalho, não obstaculizando ou impedindo o ingresso na cadeia”, afirmou o comandante da corporação, José Sanchez. De acordo com ele, o incêndio foi totalmente controlado somente duas horas após a chegada dos bombeiros.
O incêndio, segundo funcionários penitenciários, começou às 5h30 local (6h30 de Brasília) após a queima de colchões por parte de um grupo de detentos que se envolveram em uma briga na Torre 5 do centro de detenção. O número de mortos, confirmado pelo governador da região metropolitana de Santiago, Fernando Echeverría, pode aumentar devido à gravidade do estado de saúde dos 14 feridos.
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Investigação
O procurador-geral do Chile, Sabas Chahuán, nomeou Alejandro Peña como promotor principal para realizar a investigação da tragédia. Por sua vez, a defensora pública nacional, Paula Vial, assinalou aos jornalistas que os mortos eram, em sua maioria, detentos “principiantes” e “réus de baixa periculosidade”, como por exemplo Bastián Arriagada, um jovem de 20 anos que estava em prisão preventiva pela venda de filmes piratas.
O ministro de Justiça do Chile, Felipe Bulnes, indicou que os fatos serão investigados e os responsáveis serão rigorosamente punidos. O ministro de Interior chileno, Rodrigo Hinzpeter, garantiu que o governo vai divulgar as causas do acidente, além de anunciar que serão construídas “prisões mais humanas”.
Mea culpa
Ao lamentar as 81 mortes, o presidente chileno, Sebastian Piñera, reconheceu que o sistema penitenciário do Chile é “desumano” e prometeu melhorias. “Essa deve ser uma tragédia que nos ajude a corrigir nossos rumos, que ajude a melhorar a qualidade de vida das pessoas que estão privadas da liberdade”, afirmou Piñera. Segundo ele, cerca de 70% dos presídio chilenos estão superlotados.
Piñera afirmou que o governo iniciou em 15 de outubro um plano para modernizar a infraestrutura carcerária do Chile, com a construção de três prisões: uma em Antofagasta, outra em Concepción e a terceira em Talca. Além disso, disse que estão sendo planejadas prisões modulares e a melhoria das camas, do sistema de saúde, do regime de visitas e do programa de reinserção laboral.
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