O filho de um dos líderes do Cartel de Sinaloa, ua das maiores organizações do narctráfico mexicano, acusa o governo dos Estados Unidos de ter feito um acordo com seu grupo que dava imunidade aos seus líderes em troca de informações sobre outras organizações concorrentes. O governo dos EUA nega a acusação. As informações foram publicadas originalmente no site Narconews.
Preso no México em março de 2009 e extraditado para os EUA em fevereiro de 2010, Jesus Vicente Zambada Niebla Nieto enfrenta acusações de tráfico de drogas na corte federal em Chicago, onde está detido na prisão Metropolitan Correctional Center. Seus advogados afirmam ainda que a justiça norte-americana esconde provas que mostram o envolvimento do governo alegando ameaça à segurança nacional.
No começo de novembro, os advogados de Zambada Niebla entraram com uma ação pedindo para não serem excluídos de conversas entre os promotores e o juiz do sobre provas qualificadas como material confidencial. Os promotores, segundo eles, pedem que a defesa não tenha acesso a essas provas.
Os advogados acreditam que essas provas dizem respeito a uma testemunha-chave no caso. Trata-se do advogado mexicano Humberto Loya Castro, que teria servido de intermediário entre a liderança do Cartel de Sinaloa e agentes do governo.
O caso
Zambada Niebla é filho de Ismael “El Mayo” Zambada Garcia, um dos líderes do Cartel de Sinaloa –grande importador de armas e exportador de drogas sediado no México. O grande chefão do cartel é Joaquin Guzman Loera, conhecido como “El Chapo”, que escapou “milagrosamente” de uma prisão de segurança máxima no México em 200, dias antes da decisão que poderia extraditá-lo para os Estados Unidos.
Desde então, El Chapo construiu um dos mais poderosos cartéis de droga no México. O governo norte-americano nega ter oferecido qualquer acordo com garantia de imunidade a Zambada Niebla. Mas os promotores confirmaram que outro membro graduado do Cartel de Sinaloa, o advogado mexicano Loya Castro, cooperou como fonte do DEA (Agência de Combate às Drogas) por cerca de dez anos, enquanto trabalhava para a organização.
Documentos legais do governo norte-americano confirmam também que Loya Castro ajudou a construir uma relação direta de cooperação entre agentes do DEA e Zambada Niebla – antes de sua prisão em 2009.
Loya Castro é descrito nas apelações de Zambada como “um confidente íntimo de Joaquin Guzman Loera (Chapo)”.
Querendo manter o segredo
Em setembro, o governo norte-americano apresentou uma ação evocando a Lei de Procedimentos de Informações Confidenciais, cujo objetivo é manter longe do publico informações que colocariam em risco a segurança nacional.
A lei, decretada há 30 anos, funciona na prática como uma cortina de fumaça nos casos criminais de conteúdo sigiloso, encobrindo detalhes associados a operações clandestinas do FBI (órgão equivalente à Polícia Federal dos EUA) ou da CIA (agência de inteligência norte-americana).
O ato requer que a inclusão de qualquer prova sigilosa em um caso seja avisada antes à corte para que esta determine se as provas serão admitidas.
Assim, afirmam os advogados de Zambada Niebla, os promotores estariam assegurando que a exclusão da defesa das discussões sobre evidências que supostamente poderiam ameaçar a segurança nacional. A defesa não teria chance de argumentar e não ficaria sabendo quais são as provas apresentadas para o juiz – mesmo aquelas com “intermédio” de Loya Castro.
O intermediário
A defesa acredita que há evidências consistentes do acordo entre o Cartel de Sinaloa e o governo – a maioria delas partindo da relação de Loya Castro com a polícia e os agentes de inteligência.
Uma delas é a descrição de Fernando Gaxiola, advogado de defesa de Zambada Niebla, que manteve reuniões com Loya Castro no início do processo. Desde conta, por exemplo, o seguinte trecho:
“O senhor Loya Castro disse que agentes norte-americanos afirmaram que, em troca de informações sobre organizações de tráfico de drogas rivais, o governo teria concordado em extinguir o processo contra ele e a não interferir nas atividades relacionadas ao tráfico de drogas do Cartel de Sinaloa, nem processar (…) a liderança do cartel. Os agentes teriam dito que isso teria sido aprovado por altos oficiais e promotores federais”.
Castro teria, segundo a defesa, informado a Zambada Niebla sobre o acordo, que colaborou em prover as informações requeridas a Castro, que as repassaria aos agentes.
“Os agentes disseram a Loya Castro que deveriam ser notificados antes de qualquer encontro com El Chapo. Eles garantiram que não o seguiriam e não interfeririam nas reuniões para que ele se mantivesse calmo e obtivesse o máximo de informações possíveis. O senhor Loya Castro informou El Chapo que os agentes sabiam dos encontros”, diz o testemunho no processo.
O senhor Loya Castro disse ter entregue aos agentes informações importantes provenientes de Chapo Mayo e Zambada Niebla, que levaram à prisão de grandes chefões das organizações rivais”.
Mas os promotores afirmam que a versão de Loya Castro dos acontecimentos não bate com o quadro pintado pelos advogados de Zambada Niebla.
O caso judicial tem chamado a atenção pela ousadia da estratégia pela defesa. Afinal, o traficante mexicano está alegando ser protegido do governo norte-americano para justificar uma ação criminal.
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