A França retirou nesta terça-feira (09/04) os primeiros 100 soldados do seu contingente desdobrado no Mali, que totaliza 400 homens. As forças armadas francesas intervêm desde janeiro, aós pedido do governo do país africano, para frear o avanço de grupos radicais de orientação islâmica que chegaram perto de tomar controle de todo o território.
Efe
Parada militar para despedida de tropas espanholas antes de sua partida para o Mali, nesta semana
O presidente da França, François Hollande, já havia anunciado que as tropas francesas começariam a retirar-se do Mali em abril e que seu contingente deveria ficar reduzido a dois mil soldados em julho e mil até o fim do ano.
Até o momento, cinco soldados franceses morreram nos combates iniciados em janeiro. Segundo dados proporcionados no final de março pelo Exército malinês, também morreram desde o início do conflito pelo menos 63 soldados do país africano e cerca de 600 rebeldes islâmicos. Entre as tropas africanas que intervieram a favor do exército malinês, foram registradas as baixas de 26 soldados de Chade, dois de Togo e um de Burkina Faso. Junto ao contingente da França combatem 6.300 soldados africanos, sendo que a maioria deles – dois mil – são provenientes do Chade.
No mesmo dia em que foi anunciado o início da retirada de tropas, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon alertou que o conflito no país poderia estar criando uma “bomba-relógio” no território da Saara Ocidental, disputado entre Marrocos e o movimento independentista Frente Polisário. O grupo teria alertado a ONU sobre a possibilidade de “infiltrações terroristas”.
“Todos os governos consultados aumentaram preocupações sobre o risco de que a luta no Mali transborde para países vizinhos e contribua para a radicalização dos campos de refugiados no Saara Ocidental”, onde centenas de milhares de pessoas moram desde que o Marrocos anexou a área em 1975, disse Ban em relatório para o Conselho de Segurança.
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Desde então, os saarawis, como são chamados, pedem um referendo para independência, ao passo que Marrocos, apoiado por França e EUA, ofereceu o status de território autônomo. A área é rica em fosfato, usada para fertilizantes, e pode ter reservas marítimas de petróleo e gás. Ban Ki-moon também pediu a renovação da Minurso (sigla para a missão humanitária da organização no território).
“Existe muita preocupação sobre os campos de refugiados na Mauritânia e no Níger – onde certamente houve infiltração, por exemplo da MNLA (Movimento Nacional para Libertação do Azawad, grupo separatista de origem secular) e talvez do AQMI (Al Qaeda no Magreb Islâmico)”, disse uma fonte diplomática a The Guardian.
“O que não sabemos é quanto sucesso a intervenção militar no Mali obteve. Parece que foi eficiente – desmembrou a rede, capturou um grande número de armas e matou muitos insurgentes”, continuou. “Mas muitos dos recrutados localmente simplesmente desapareceram: alguns foram para suas vilas, mas outros podem ter cruzado a fronteira para Níger e Argélia. É difícil saber se islâmicos saindo do Mali possuem número e habilidade para se reestruturar e conduzir operações de fora”.
Segundo Berny Sèbe, especialista consultado por The Guardian, “o que está acontecendo no Mali tem potencial para desestabilizar o conflito no Saara Ocidental – alguns saarawis que pensam que argelianos não foram eficientes o suficiente em apoiar seu movimento podem usar a logística de grupos islamitas, e ao mesmo tempo existe muita frustração de que líderes ocidentais foram lenientes em relação à posição marroquina para o território”.
O próprio François Hollande, president francês, disse ao Parlamento marroquino na semana passada que a situação no Saara Ocidental era “prejudicial” e que se “torna mais urgente dar um fim a essa situação (o conflito no Mali)”. O governo malinense admitiu que os islâmicos do norte estavam passando para outros países, mas que continuarão a coordenar suas ações com os vizinhos.
Após passar por Abidjan (Costa do Marfim), o primeiro contingente francês desmobilizado chegou nesta terça-feira a Paphos, no Chipre, onde descansará por três dias antes de retornar à França, informou o Estado-Maior. São militares de unidades de paraquedistas que operavam na região de Tessalit, no nordeste do país, onde ocorreram violentos combates contra as tropas islâmicas em fevereiro e março, assinalou o porta-voz do Estado-Maior, o coronel Thierry Burkhard.
Na semana passada, a França propôs às Nações Unidas e ao governo do Mali manter de maneira permanente um contingente de mil militares franceses no país para colaborar na luta contra o terrorismo. A ONU estuda enviar 11.200 capacetes azuis à região e 1.400 policiais.
Histórico
A ofensiva lançada no início de janeiro pela coalizão de grupos islâmicos Ansar al Dine (Defensores da Fé), Mujao (Movimento pela Unidade e Jihad na África Ocidental), AQMI, que se aliaram aos separatistas do MNLA, conquistou o norte o centro do país, e se dirigiam rapidamente para a capital Bamako, que pediu ajuda militar com urgência a Paris.
Em poucas semanas, a intervenção militar francesa conseguiu frear o ataque rebelde e recuperar o controle das principais cidades desta vasta região malinesa conhecida como Azawad.
* Com informações de The Guardian e El Mundo
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