O ex-presidente Donald Trump presta depoimento sob juramento nesta segunda-feira (06/11) num tribunal de Nova Iorque durante um julgamento civil de alto risco para o seu império imobiliário, um momento quase sem precedentes para a democracia norte-americana. O comparecimento diante da Justiça é o primeiro de uma longa série para o bilionário que quer voltar a concorrer à presidência dos EUA.
Desde as 10h da manhã em Nova York (12h em Brasília), o ex-presidente dos Estados Unidos, de 77 anos, acusado de ter inflado de maneira colossal o valor dos seus ativos imobiliários para seduzir os bancos, se defende e responde detalhadamente a cada pergunta feita pelo promotor Kevin Wallace, em uma sala lotada do tribunal de Manhattan, onde prestou juramento, com a mão levantada.
Durante as duas primeiras horas, o bilionário atacou diversas vezes a procuradora-geral Letitia James, dizendo que ela era “uma política mesquinha”, e contra o juiz Arthur Engoron.
“É realmente um julgamento muito injusto e espero que as pessoas vejam isso”, disse Trump, enquanto o juiz, com quem mantém péssimas relações desde o início das audiências, em 2 de outubro, pediu várias vezes para que ele desse respostas mais curtas.
“Não estamos numa reunião política”, alertou o magistrado, que, desde a abertura do julgamento, já aplicou duas multas ao ex-presidente, de 5 mil e 10 mil dólares, por agredir o seu escrivão.
Neste caso, a procuradora-geral do estado de Nova York, Letitia James, abriu um processo civil contra a Organização Trump, acusando o ex-presidente e seu filho de terem superestimado os ativos do grupo – diversas empresas que administram arranha-céus, hotéis e residências de luxo ou campos de golfe em todo o mundo – para obter melhores empréstimos bancários e condições de seguro mais favoráveis.
Ao chegar ao tribunal, Donald Trump, o grande favorito nas primárias republicanas para as eleições presidenciais de 2024, voltou a se colocar como vítima de uma “guerra política” e de uma “maquinação jurídica digna”, segundo ele, de um “país do terceiro mundo e de repúblicas das bananas”.
Na solene sala de audiência do tribunal, Trump, de terno azul-marinho, camisa e gravata combinando, argumentou com os braços cruzados e discutiu o valor de seus bens, como da residência em Mar-a-Lago, na Flórida, garantindo que os ativos estavam, pelo contrário, “subvalorizados” e que os bancos fizeram bons negócios “emprestando muito dinheiro” para ele.
Wikicommons
É a primeira vez em mais de 100 anos que um ex-presidente é chamado a testemunhar em sua defesa num julgamento
Provas conclusivas
Empresário bilionário antes de entrar na política e abalar as instituições norte-americanas, ele destacou o valor da “marca Trump”. “Tornei-me presidente (dos EUA) graças à minha marca”, disse ele. “É um julgamento maluco”, afirmou.
É a primeira vez em mais de 100 anos que um ex-presidente é chamado a testemunhar em sua defesa num julgamento, desde Theodore Roosevelt na década de 1910.
Ao contrário dos outros quatro processos criminais em que é acusado, Donald Trump não enfrenta pena de prisão neste julgamento civil, mas corre risco financeiro e o caso começou mal.
Antes mesmo da abertura, o juiz estimou que a Procuradoria-Geral do Estado de Nova York apresentou “provas conclusivas de que, entre 2014 e 2021, os acusados supervalorizaram os ativos” do grupo em “U$ 812 milhões a U$ 2,2 bilhões”, dependendo do ano, segundo os números registados nos balanços financeiros anuais de Donald Trump.
Como resultado de “repetidas fraudes”, ordenou a liquidação das empresas que administram estes ativos, como a Trump Tower na 5ª Avenida em Nova York ou o arranha-céus de estilo neogótico e em breve centenário do número 40 da Wall Street.
Ou seja, se a decisão, suspensa em recurso, fosse aplicada, o bilionário republicano perderia o controle de parte de seu império imobiliário, ele que se lançou na política com base na sua imagem de construtor de sucesso.
O ex-presidente dos EUA sucede na ordem do julgamento seus dois filhos Donald Junior e Eric, vice-presidentes executivos da Organização Trump, também processados e ouvidos na semana passada.
Com a fraude já demonstrada, o julgamento incide sobre o montante da multa. A procuradora-geral pede US$ 250 milhões e proibição de administrar negócios para o bilionário republicano e seus filhos.
Seus advogados refutam qualquer fraude, argumentando que as avaliações imobiliárias são subjetivas e que os bancos credores não tiveram prejuízos.
Este julgamento é apenas um dos primeiros testes legais que aguardam Donald Trump. Ele deve comparecer ao tribunal federal de Washington a partir de março de 2024.