O empresário e candidato pelo Partido Republicano Donald Trump venceu, nesta quarta-feira (9/11), as eleições norte-americanas e se tornou o 45º presidente dos EUA, após uma acirrada disputa com a democrata Hillary Clinton. Trump, de retórica populista, venceu uma eleição que, há duas semanas, pesquisas apontavam que seria ganha por ela.
Mike Pence, governador de Indiana e companheiro de chapa do republicano, é o novo vice-presidente do país.
Até as 6h, Trump tinha projetados 280 votos eleitorais, e Hillary, 218. Para vencer, eram necessários 270 dos 538 votos. O republicano tinha um caminho difícil para a vitória – era necessário que ganhasse em todos os “swing states” (Estados que ora votam nos democratas, ora nos republicanos). Resultados supreendentes em Pensilvânia, Carolina do Norte e Flórida, Estados em que as pesquisas apontavam vantagem de Hillary, deram o direito a Trump de ocupar a Casa Branca.
Com o resultado, os republicanos voltam à Casa Branca após oito anos, quando o então presidente George W. Bush (2001-2009) passou o cargo ao democrata Barack Obama.
O que esperar de Trump como presidente
Algumas propostas do empresário para o país, prometidas durante sua campanha, e que podem ser esperadas de sua gestão são a eliminação do sistema de saúde Obamacare; o estabelecimento de novos métodos de controle sobre imigrantes — o que inclui dificultar o acesso a empregos para “priorizar” norte-americanos e deportar refugiados e imigrantes sem documentação; o aumento do valor do orçamento destinado às Forças Armadas; a saída dos EUA do Acordo Trans-Pacífico (TPP); o reestabelecimento das relações bilaterais com a Rússia, entre outros.
Diversas dessas propostas foram contestadas. Uma delas foi a de construir um muro na fronteira entre México e EUA — que seria pago pelo país latino-americano —, para “proteger” a fronteira norte-americana.
A proposta gerou revolta por parte da população mexicana que reside em ambos os países. Trump chegou até a visitar o México numa tentativa de aplacar os ânimos e discutir sua proposta com o presidente Enrique Peña Nieto.
Na ocasião, o empresário acabou sendo recebido sob protestos e, apesar de Peña Nieto ter rejeitado a possibilidade de pagar pela construção do muro, ele foi duramente criticado pela população mexicana.
Campanha até a Casa Branca
Desde as primárias, a campanha de Donald Trump até chegar à Casa Branca foi marcada por escândalos e polêmicas.
Logo durante as primárias, etapa inicial das eleições norte-americanas em que pré-candidatos disputam a nomeação de seus respectivos partidos com outros aspirantes à Presidência, Trump provocou uma ruptura na legenda republicana.
Suas declarações extremas e violentas foram rejeitadas por diversos membros e eleitores republicanos, que criaram até o movimento “Never Trump” (Nunca Trump).
Apesar das dissidências, Trump conseguiu obter o número necessário de delegados, superando Ted Cruz, Jeb Busch, Marco Rubio, John Kasich, entre outros. O que não significou, porém, a união do partido em torno do empresário.
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Campanha de Trump dividiu republicanos; durante Convenção Republicana, conservadores de peso faltaram à nomeação do empresário
Conservadores de peso faltaram à Convenção Republicana, em que ele foi nomeado candidato republicano às eleições. Entre eles estavam os ex-presidentes George H.W. Bush e George W. Bush, o candidato de 2012, Mitt Romney, e o senador John McCain.
Outros republicanos chegaram a declarar abertamente apoio a Hillary Clinton, que conseguiu a nomeação democrata à Presidência superando o senador de Vermont Bernie Sanders.
A cerimônia contou, ainda, com outra polêmica: a esposa do magnata, a ex-modelo eslovena Melania Trump, copiou ipsis litteris trechos do discurso de 2008 da atual primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, sendo acusada de plágio pela mídia.
Agência Efe
Melania Trump foi acusada de plágio por seu discurso durante Convenção Republicana
O escândalo seguinte veio pouco após a realização da Convenção Democrata e contribuiu para agravar ainda mais as divisões internas no Partido Republicano. Na ocasião, o magnata fez um comentário desrespeitoso a um casal de muçulmanos imigrantes que discursou na cerimônia de nomeação de Hillary e cujo filho, Humayun Khan, tinha sido morto servindo as Forças Armadas norte-americanas.
Trump chegou a dizer que a mãe de Khan não discursou, ficando apenas ao lado do marido, porque não lhe foi permitido devido à religião que segue. O comentário causou revolta entre os próprios republicanos, que pediram desculpas ao casal.
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Khizr Khan e sua mulher, Ghazala, durante convenção democrata na Filadélfia
Outros pontos sensíveis na campanha de Trump se referiam a seu patrimônio. Em outubro, o jornal New York Times afirmou que ele teria evitado pagar impostos por 18 anos, o que o teria poupado um gasto de cerca de 50 milhões de dólares ao longo de todo esse tempo.
À época, assessores do republicano afirmaram que ele teria declarado perdas no valor de 916 milhões no imposto de renda de 1995 que o teriam permitido evitar impostos sobre a renda legalmente durante o período.
A acusação do jornal não foi a primeira. Em setembro, a revista Newsweek já o havia acusado de violar o bloqueio comercial norte-americano a Cuba no final dos anos 1990. O veículo alegava que o magnata teria investido quase 70 mil dólares na ilha, mascarados de doações a instituições católicas.
Além disso, o empresário já havia sido citado pelos Panama Papers, maior vazamento de documentos até hoje que revelou a existência de contas offshore, empresas de fachada, fundações e fundos de diversas figuras públicas internacionais criadas em 21 paraísos fiscais ao redor do mundo para possivelmente evadir impostos ou lavar dinheiro.
A corporação Trump apareceu ligada a 32 empresas offshore.
O maior escândalo de todos, contudo, foram as acusações de assédio sexual provenientes de 15 mulheres, que quase custaram a eleição do magnata.
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Karena Virginia foi a décima mulher a acusar Trump de assédio sexual
As acusações foram feitas após a divulgação de um vídeo de 2005, em que o republicano dizia que podia fazer o que quisesse com mulheres por causa de sua fama, o que incluía beijá-las e “apertar suas bocetas” sem consentimento.
Houve, inclusive, uma acusação de que ele teria estuprado uma adolescente de 13 anos. A vítima, porém, que iria se dirigir à imprensa e detalhar o caso na quinta-feira (03/11), não compareceu à coletiva, afirmando ter recebido ameaças de morte.
Todas as declarações foram taxadas pela campanha do empresário e por ele próprio como “falsas”.
Relação de Trump com Hillary
Desde o início, a relação e Trump com Hillary foi hostil. O republicano criou vários apelidos pejorativos para sua adversária democrata, sendo o mais conhecido “Crooked Hillary” (em referência à proximidade de Hillary com os empresários de Wall Street, significaria ‘ladra’).
Uma das declarações mais emblemáticas (e agressivas) do empresário foi feita em agosto durante um comício na Carolina do Norte. Ele afirmou que os defensores do direito ao porte de armas teriam o poder de deter Hillary.
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Relação de Trump com Hillary durante campanha foi de hostilidade
A declaração foi interpretada como uma alusão velada ao uso da violência por quem tem acesso a armas para deter a então candidata democrata.
Outra dessas afirmações ocorreu durante o segundo debate presidencial, quando o magnata afirmou que se fosse eleito nomearia um promotor especial para investigar o uso de um servidor de e-mail privado por Hillary quando era Secretária de Estado e prendê-la.
A fala de Trump chegou a ser justificada por seu chefe de campanha, Conway Kellyanne, como uma “piada”.
Debates presidenciais
O primeiro debate presidencial ocorreu no fim de setembro e foi a primeira oportunidade que os então candidatos tiveram de se enfrentar e acusar diretamente.
Mediado pelo jornalista Lester Holt e realizado na Universidade de Hofstra, em Nova York, o debate durou 90 minutos e trouxe temas como emprego, impostos, racismo, cibersegurança, armas nucleares e o combate ao Estado Islâmico.
No embate, Trump interrompeu Hillary constantemente e seu discurso foi marcado por propostas de diminuição de impostos para empresas. Já a fala de Hillary focou em defender a classe média em especial a população negra.
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No último debate presidencial, Trump se recusou a dizer se aceitaria os resultados das eleições caso perdesse
No segundo debate, as acusações de assédio sexual foram trazidas à tona por Hillary contra o empresário que, por sua vez, rebateu dizendo que a democrata deveria ser presa por ter usado seu e-mail particular para fins profissionais quando era secretária de Estado.
Novamente, Trump interrompeu Hillary diversas vezes e chegou a reclamar da moderação do debate, dizendo que estaria sendo prejudicado.
Por fim, no último debate, realizado pela Fox News e mediado pelo jornalista Chris Wallace, Trump se recusou a dizer se aceitaria o resultado das eleições presidenciais caso perdesse.
Após o debate, entretanto, a campanha do empresário afirmou que ele iria aceitar o resultado “pois será o vencedor”, como de fato ocorreu.