A União Europeia suspendeu neste sábado (29/07) a cooperação financeira e de segurança com o Níger, em resposta ao golpe militar que depôs na quarta-feira (26/07) o presidente Mohamed Bazoum, eleito em 2021. Os Estados Unidos prometeram “apoio inabalável” a Bazoum, detido em Niamey pelos golpistas. A União Africana deu um prazo de 15 dias para a junta militar que assumiu o poder restabelecer a autoridade constitucional no país.
A União Europeia (UE) “não reconhece e não reconhecerá as autoridades resultantes do golpe de Estado” no Níger e suspende imediatamente “todas as suas atividades de cooperação na área da segurança” com o país do Sahel, declara o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, em comunicado publicado em Bruxelas. O presidente Bazoum “foi democraticamente eleito e continua a ser o único presidente legítimo do Níger”, sublinha a nota. “Ele deve ser libertado incondicionalmente e sem demora”, afirma Borrell.
Os militares que tomaram o poder no Níger anunciaram na sexta-feira (28/07) a suspensão da Constituição e a dissolução das instituições do país. O golpe foi liderado pelo general Abdourahamane Tchiani, que era chefe da Guarda Presidencial e foi nomeado o novo chefe de Estado do Níger. Ele afirma contar com o apoio dos corpos do Exército e da Polícia.
Tchiani justificou a deposição de Bazoum dizendo que ele adotava uma “retórica política” que queria convencer a população de que “tudo ia bem”, enquanto havia “uma dura realidade com mortos, deslocados, humilhação e frustração” no Níger. “A abordagem atual em matéria de segurança não foi capaz de proteger o país, apesar dos grandes sacrifícios do povo nigerino e do grato apoio de nossos aliados externos”, afirmou.
EUA prometem apoio incondicional ao presidente deposto
A União Europeia, os Estados Unidos e outros países apelaram à libertação incondicional de Bazoum, que permanece sequestrado em sua residência, e o retorno da ordem democrática no Níger. Além da suspensão imediata da ajuda financeira, os europeus decidiram interromper a cooperação na área de segurança “por tempo indeterminado”.
O Níger é um dos principais beneficiários da ajuda ocidental e um dos principais parceiros da União Europeia no combate à imigração ilegal proveniente da África subsaariana. A UE mantém um pequeno número de soldados no país, que atuam no treinamento de militares nigerinos. De acordo com o site do bloco, no período de 2021 a 2024, os europeus destinam € 503 milhões (US$ 554 milhões) de seu orçamento para esse extenso país africano. Os recursos são utilizados em ações para melhorar a governança, a educação e o desenvolvimento sustentável no Níger.
Golpes desfavoráveis à França
País pobre com um histórico de golpes de Estado, o Níger era um dos últimos aliados da França no Sahel, uma região assolada por instabilidade, insegurança e ataques jihadistas. A reviravolta em Niamey é a terceira na região desde 2020, após a chegada dos militares ao poder no Mali e em Burkina Faso, em um contexto de crescente influência da Rússia naquela área.
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Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, sofreu um golpe na última quarta-feira (26/07)
A França, que pôs fim à operação antiterrorista Barkhane e se retirou do Mali sob pressão da junta em Bamako, tem atualmente 1.500 soldados destacados no Níger, que até agora operavam o lado do Exército nigerino. Outros 1.000 soldados franceses estão estacionados no vizinho Chade. Os estados Unidos têm 1.000 soldados na área.
O presidente francês, Emmanuel Macron, reúne-se na tarde de sábado, em Paris, com seu Conselho de Defesa, para avaliar a situação. Macron condenou o golpe com veemência. Assim como a União Europeia, a França “não reconhece as autoridades” que tomaram o poder à força no Níger.
União Africana dá prazo para soldados retornarem às casernas
Neste sábado, a União Africana (UA) exigiu o restabelecimento da “autoridade constitucional”. O Conselho de Paz e Segurança da UA “exige que os militares [nigerinos] regressem imediata e incondicionalmente aos seus quartéis e restabeleçam a autoridade constitucional, num prazo máximo de 15 dias”, de acordo com um comunicado divulgado após uma reunião do órgão ocorrida na sexta-feira.
No domingo (30/07), está prevista “uma reunião de cúpula especial” da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), à qual pertence o Níger, para avaliar a crise. Os representantes da Cedeao poderão adotar sanções em virtude do golpe.
General golpista é figura discreta e controvetida
O general Abdourahamane Tchiani, de 59 anos, mantinha-se discreto até sequestrar o presidente eleito do Níger e se autoproclamar o novo homem forte do país. “Não se sabe muito sobre ele fora dos círculos militares. É um homem poderoso nos bastidores, mas não é figura muito consensual”, descreve Ibrahim Yahaya Ibrahim, pesquisador do International Crisis Group.
Segundo pessoas próximas do presidente Bazoum contatadas pela AFP, as relações entre o general Tiani e o chefe de Estado deterioravam-se há vários meses. Bazoum teria manifestado recentemente o desejo de o substituir na chefia da Guarda Presidencial.
Tiani participou de várias missões da ONU na Costa do Marfim, no Congo e no Darfur, no Sudão, bem como numa missão da Comunidade dos Estados da África Ocidental (Cedeao) na Costa do Marfim. Os seus detratores o consideram uma personalidade “controversa” dentro do Exército. Aqueles que admiram o general o descrevem como um militar “duro”, “corajoso” e, sobretudo, “popular” entre os cerca de 700 membros da sua unidade.