Álvaro Uribe foi “muito amigo dos paramilitares”, afirmou o presidente colombiano e candidato à reeleição, Juan Manuel Santos, nesta sexta-feira (23/05), em entrevista à Rádio Caracol, ao comentar um dos assuntos mais polêmicos do debate entre os postulantes à Presidência realizado ontem pela TV RCN. O mandatário se referia à suposta vinculação do ex-presidente e senador com grupos de extrema-direita que atuam no país.
Agência Efe
Santos e Zuluaga foram convidados a fazerem as pazes; o mandatário entregou um broche de pomba branca ao opositor
Apesar de ser a primeira oportunidade de os cidadãos confrontarem as propostas dos presidenciáveis, os colombianos assistiram a mais uma sessão de trocas de acusações entre Santos e o uribista Óscar Iván Zuluaga. A três dias das eleições, as denúncias que tomaram conta da campanha na reta final ofuscaram o debate em torno dos projetos políticos, sociais ou econômicos dos candidatos para o país. Questões como o dilema entre a mineração e o meio ambiente, a situação carcerária do país, a Justiça, a educação e as relações com a Venezuela tiveram pouco destaque nas exposições.
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Questionado por jornalistas se teria traído seu padrinho político, o ex-presidente Uribe, de quem foi ministro de Defesa, Santos respondeu: “não, eu traí a corrupção, o coleguismo, o paramilitarismo e os grampos [de telefone]”.
Hoje, o mandatário completou que “Uribe foi muito amigo dos paramilitares” e ressaltou que ficou surpreso com as revelações feitas no livro do senador Ivan Cepeda, que mostra os vínculos do ex-presidente com a extrema-direita armada. Santos disse ainda estar disposto a abrir um processo por injúria e calúnia se Uribe não apresentar provas do suposto financiamento da campanha santista em 2010 com dinheiro do narcotráfico. Vale que destacar que o próprio Uribe era o principal cabo eleitoral de Santos há quatro anos.
Além de Santos e Zuluaga, também participaram do programa televisivo o candidato pelo partido Verde, Enrique Peñalosa; a candidata do Polo Democrático, Clara López, e Marta Lucía Ramírez, do partido Conservador.
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Debate
Diante da possibilidade de o Centro Democrático, liderado por Uribe, desconhecer o resultado das eleições por supostas irregularidades, Zuluaga garantiu que, se perder o pleito, “como democrata, respeitarei profundamente [os resultados]”.
Os candidatos discordaram a respeito da postura colombiana diante das relações diplomáticas com a Venezuela. Zuluaga criticou a atual diplomacia e afirmou que a “Venezuela não é uma democracia, é um país que abriga terroristas colombianos. (…) Em meu governo não terei um silêncio cúmplice”.
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Santos rebateu com o argumento de que “há quatro anos estávamos a bordo de uma guerra com a Venezuela e éramos a ovelha negra da região. Nos tratavam como párias. Hoje é totalmente diferente. Exercemos a diplomacia com prudência, mas com firmeza”.
Em meio aos ataques, os demais concorrentes aproveitaram para criticar tanto Santos quanto o uribista. Peñalosa, terceiro nas pesquisas, afirmou que os eleitores “devem se perguntar se esta é a democracia que querem”. A candidata de esquerda, Clara López, classificou de “vergonhosa” a “guerra suja” entre o presidente candidato e Zuluaga.
Diálogos de paz
Santos aproveitou a oportunidade para mostrar os resultados que sua equipe negociadora obteve no acordo para acabar com o problema do narcotráfico e as drogas ilícitas no país durante os diálogos de paz. “Eu fui o pior inimigo das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), mas a paz se constrói com o inimigo” e ressaltou que a guerrilha aceitou deixar suas relações com o narcotráfico e colaborar com o desmantelamento da cadeia de produção.
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Dezenas de pessoas se reuniram em Bogotá onde acenderam velas pela paz no país que vive o mais longo conflito armado do mundo
Clara e Peñalosa estão de acordo com a realização das negociações com as FARC. O candidato da Aliança Verde, no entanto, lamentou que o presidente tenha utilizado o tema para promover sua reeleição. A candidata de esquerda criticou que as conversas ocorram em meio à manutenção da guerra, uma vez que o governo não aceitou negociar um cessar-fogo com a guerrilha.
Em mais uma oportunidade, Zuluaga — em empate técnico com Santos, ambos com cerca de 30% das intenções de voto — afirmou que, se eleito, encerrará os diálogos de paz que o governo colombiano realiza com as FARC há 18 meses.
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Marta, que pediu que os colombianos votem nela por ser “uma mulher de classe média”, também criticou a política de Santos e ressaltou que para uma negociação deste tipo “o recrutamento de crianças para o combate teria que ser suspenso”.
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