Após a divulgação dos resultados das eleições legislativas realizadas neste domingo (06/12), em que o chavismo sofreu um revés histórico, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, reconheceu a derrota de sua coalizão. “Nós viemos com nossa moral e com nossa ética a reconhecer estes resultados adversos, a reconhecê-los e a dizer à nossa Venezuela que triunfou nossa Constituição e democracia”, afirmou.
Análise de Breno Altman: Por que o chavismo perdeu?
O líder venezuelano ressaltou que, para além de uma vitória da oposição, trata-se do triunfo da “guerra econômica” e de “um capitalismo selvagem” e não relativizou: “foi uma bofetada para nos fazer despertar para o futuro”. Ele defendeu ainda a necessidade de que o país entre em “uma nova etapa da política”.
Agência Efe
Maduro reconheceu a derrota nas eleições legislativas
Maduro também afirmou ser “heroico” conseguir 46 dos assentos da Assembleia Nacional e agradeceu a “lealdade e compromisso” daqueles que votaram pelo Grande Polo Patriótico, composto também pelo partido do presidente, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela).
“Não é tempo de chorar, é tempo de somar forças com base no legado que nos deixou o presidente Hugo Chávez para conseguir respostas para os problemas que tem nosso povo. Nos deixaram uma ferida grande, mas sairemos dessa e abriremos com nossa luta, nossa lealdade, uma vitória com uma nova maioria bolivariana”. “É tempo de renascimento desde as dificuldades”, ressaltou.
“Hasta la victoria siempre”, finalizou Maduro.
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Eleições históricas
Ao divulgar o resultado, a presidente do CNE, Tibisay Lucena, classificou como “extraordinária” a participação de 74,25% dos mais de 19 milhões de eleitores aptos a votar no país, onde o voto não é obrigatório.
Esta eleição não se tratou de uma simples disputa pelos 167 assentos — dois a mais do que os que existem na câmara atual. Realizada em meio a uma pesada crise econômica e quase três anos depois da morte de Hugo Chávez, as eleições legislativas ganharam um “sabor” de presidenciais, frente à importância que adquiriram tanto para o chavismo ,quanto para a oposição.
Na Venezuela, a queda dos preços do petróleo, que despencaram de 100 para 30 dólares, impactou profundamente as receitas do país. A inflação disparou nos últimos anos e escassez de produtos básicos nas prateleiras dos supermercados é grande, devido à falta de dólares para importações — o país petroleiro importa 70% dos produtos que consome — e à ação do contrabando de itens, os chamados “bachaqueros”.
Dentre os deputados reeleitos do PSUV estão o atual presidente da Assembleia Nacional e vice-presidente do PSUV, Diosdado Cabello, pelo estado de Monagas, além de Darío Vivas e Tania Díaz. A primeira-dama venezuelana e ex-presidente da Assembleia Nacional, Cilia Flores, também foi eleita deputada pelo estado de Cojedes.
Marina Terra/Opera Mundi
Venezuelanos se concentraram, desde as primeiras horas da manhã, nos centros de votação
Controvérsias
Pouco das 18h em Caracas (19h30 de Brasília), Lucena fez um pronunciamento em rede nacional para anunciar a revogação da credencial dos ex-presidentes convidados pela MUD para acompanhar as eleições no país.
A situação ocorreu após o ex-presidente boliviano Jorge Quiroga ter classificado como “lamentável” o fato de que o Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro, tenha manifestado, em carta enviada ao presidente Nicolás Maduro, “toda a vantagem para o governismo e é triste ver que isso segue ocorrendo no dia da eleição. Nós que seguimos a realidade venezuelana vemos que mudou. Na democracia não pode ser de qualquer jeito, há regras” e concluiu: “uma dessas regras é fechar as filas às 18h se não tiver eleitores na fila”.
Além do episódio, a prorrogação do fechamento dos centros de votação devido a falhas apresentadas em algumas máquinas eleitorais, também gerou críticas no país.
Sistema “misto”
Mais de 19 milhões de eleitores estavam aptos a votar nas eleições legislativas venezuelanas. Foram escolhidos 167 deputados por meio do sistema eleitoral “misto”, com votos nominais e em lista fechada por partidos. No primeiro foram escolhidas 113 cadeiras nas 87 circunscrições eleitorais e no segundo, 87 deputados que são repartidos em cotas que variam entre um e três deputados dependendo do estado e que são divididos de maneira proporcional entre as listas.
Nesta modalidade de votação, cada eleitor pode emitir até quatro votos, dependendo de sua circunscrição. Ou seja, pode votar em até dois candidatos nominais e um voto terá que ser dado necessariamente nos deputados da lista de sua preferência. Nas regiões onde são eleitas lideranças indígenas, os eleitores elegem um candidato a mais.
Com isso, na Venezuela, a maioria dos votos por determinada coalizão não significa um maior número de cadeiras no Congresso. O mandato dos novos deputados começa no dia 5 de janeiro do ano que vem. Para as eleições foram habilitados 14,5 mil centros de votação e 40,6 mil mesas eleitorais em todo o território.