“A maior oportunidade da Venezuela em séculos”, definiu nesta terça-feira (31/07) o presidente Hugo Chávez sobre a entrada do país no Mercosul. A afirmação não é exagero. Dependente dos dividendos do petróleo — a Venezuela tem as maiores reservas do mundo, segundo a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) –, o país tem um parque industrial ainda pouco desenvolvido e agora aposta no bloco regional para mudar esse cenário.
Efe (31/07/2012)
Com a entrada da Venezuela, Mercosul passa a somar 3,3 trilhões de dólares e a abrangir 72% da América do Sul
É “um episódio histórico que permitirá ao país realizar uma verdadeira revolução produtiva em áreas estratégicas como a industrialização”, afirmou o presidente da Venezuela do Parlamento Latino-americano, Rodrigo Cabezas. “A decisão de hoje é histórica. Para a economia venezuelana, representa uma nova etapa, nada será como antes, e, para a América Latina, significa a derrota definitiva do neoliberalismo a partir do aprofundamento da integração continental”, complementou o parlamentar à imprensa.
Para Cabezas, porém, a adesão da Venezuela ao Mercosul será um desafio, pois o mercado nacional se amplia de forma impressionante, saltando de 29 milhões para 300 milhões de pessoas (população estimada do bloco com a incorporação do país de Chávez).
De fato, conforme ressaltou a presidente brasileira, Dilma Rousseff, o bloco se tornou uma das maiores economias do mundo, com um PIB (Produto Interno Bruto) de 3,3 trilhões de dólares. “Considerando os 4 países mais ricos do mundo, Estados Unidos, China, Alemanha e Japão, o Mercosul somado é a 5° força”, destacou.
O parlamentar venezuelano adiantou que, nos próximos anos, a Venezuela deverá aproveitar a oportunidade para resolver discórdias em torno do petróleo, a partir da construção de uma economia que tenha uma base industrial capaz de exportar de maneira competitiva em relação a qualidade e preço. Em sua opinião, é necessário que “o setor industrial na Venezuela tenha maior fatia no PIB, passando dos atuais 14% até os 20% e que esta escalada seja fortemente alavancada por exportações”.
Quem também comemorou a entrada da Venezuela no Mercosul foi a indústria brasileira. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) avaliou que a chegada dos venezuelanos ao bloco “amplia a importância econômica do Mercosul e abre oportunidades promissoras de negócios e investimentos para a indústria do Brasil e dos demais países do bloco econômico”. Além disso, sublinhou a confederação em nota, “cria perspectivas positivas para acelerar os investimentos brasileiros e o intercâmbio de produtos industrializados e recursos energéticos entre Brasil e Venezuela”.
Desafios
Cabezas disse que o principal desafio é dar um salto nos campos da ciência e tecnologia, e na formação acadêmica “para melhorar nossa produtividade e competitividade, a fim de poder instalar uma plataforma para exportações nos setores agrícola, agroindustrial, manufatureiro e fortalecer as estruturas atuais na prestação de serviços e nas telecomunicações”.
Efe (24/07/2012)
Cabezas: “o setor industrial na Venezuela precisa representar uma maior fatia no PIB, ultrapassando os atuais 14%”
A CNI destacou que a Venezuela “precisa cumprir alguns requisitos para conquistar a confiança dos investidores e assegurar o futuro do bloco econômico”. Entre esses requisitos, enumera o órgão da indústria brasileira, “está a maior transparência na política cambial e a definição de uma agenda para resolver as pendências técnicas do programa de liberalização comercial do Mercosul”.
De acordo com dados do Itamaraty, entre 2001 e 2010, o comércio da Venezuela com os países do Mercosul aumentou mais de sete vezes, passando de cerca de US$ 1 bilhão para US$ 7,5 bilhões. Com a entrada do país caribenho, o Mercosul representatá 70% da população da América do Sul (270 milhões de habitantes), 83,2% de seu PIB (US$ 3,3 trilhões) e 72% de seu território (12,7 milhões de km²).
Oposição
Cabezas rebateu as críticas de alguns setores da oposição venezuelana, que criticaram a adesão da Venezuela ao Mercosul, alegando que representará uma “deterioração” da produção nacional, porque a nação carece de condições satisfatórias para fazer esse processo de integração.
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O candidato da MUD (Mesa de Unidade Democrática), Henrique Capriles, foi uma dessas vozes. “Estamos importando tudo. Aqui não há soberania alimentícia. A incorporação da Venezuela no Mercosul só será muito boa no dia em que o país produzir, ser um país que exporta”, disse o candidato.
“A resposta para esses opositores é que passem a ver com outros olhos a América Latina, continente que desenvolveu nos últimos anos a vocação para a fusão de ideais políticos e econômicos. A Venezuela não pode dar as costas à integração latino-americana em função de interesses particulares da burguesia nacional”, afirmou Cabezas.
Acordos
Ainda nessa terça-feira, alguns acordos bilaterais e negócios foram firmados. Entre eles está a venda de seis jatos modelo 190, por US$ 270 milhões, pela Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) para o Conviasa (Consórcio Venezuelano de Indústrias Aeronáuticas). O contrato prevê ainda a opção de compra pela estatal venezuelana de mais 14 aeronaves, chegando a um preço total de US$ 900 milhões.
Já a Argentina assinou com a Venezuela um compromisso de aliança estratégica entre as petrolíferas YPF e PDVSA. Sem maiores detalhes, Chávez afirmou que o acordo permitirá a YPF explorar as jazidas venezuelanas da Faixa do Orinoco e permitir que a PDVSA continue com sua presença na Argentina.
* Com informações do Prensa Latina, da rede multiestatal TeleSur e da Carta Maior