A convulsão social que tomou conta do mundo árabe começa a ter um impacto significativo sobre os preços do petróleo. O anúncio da repressão violenta comandada pelo coronel Muamar Kadafi, que dirige a Líbia com mão de ferro há 42 anos, assim como a decisão de varias petrolíferas estrangeiras de suspender suas operações, fizeram a cotação do petróleo disparar. O barril de referência europeu Brent chegou a superar US$ 105, a maior cotação desde o final de 2008, antes que estourasse a crise econômica e financeira mundial.
Para os operadores do mercado energético, os distúrbios na Líbia são os mais importantes registrados até hoje. “Comparada com a Tunísia (um pequeno exportador) ou com o Egito (que não exporta, mais por onde transitam os navios-tanques), a instabilidade na Líbia é uma grande preocupação para a indústria do petróleo”, resume a JBC Energy, uma consultoria baseada em Viena.
Guerra civil
Em pronunciamento pela televisão, Seif al-Islam, um dos filhos de Kadafi, acusou a oposição e grupos islâmicos de tentar dividir a Líbia. Ele ainda afirmou o país se arriscava a entrar em uma guerra civil e que o governo iria resistir. A agência de classificação de risco Fitch, uma das três principais do mundo, rebaixou a nota da Líbia para BBB devido à “erupção de risco político”. Isso significa que o custo das dívidas soberanas do Oriente Médio deveria subir.
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A Líbia é um membro de médio porte da Opep, cartel dos principais países produtores de petróleo, produzindo 1,8 milhões de barris por dia, de um total global de 88,5 milhões de barris por dia, ou seja, 2% da produção mundial segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE).
No entanto, é um importante exportador de petróleo para a Europa, fornecendo cerca de 1,4 a 1,6 milhão de barris por dia para o continente. Itália, França e Alemanha são os principais importadores. As bolsas europeias repercutiram o temor de um aumento dos preços, que poderia acabar com as esperanças de recuperação econômica.
Desde que as sanções americanas e europeias à Líbia foram diminuídas, a partir de 2004, as petrolíferas estrangeiras começaram a voltar ao país, atraídas pela reserva calculadas em 44,3 bilhões de barris – a maior da África.
De acordo com um comunicado divulgado nesta terça-feira (22/02) por analistas de Stratfor, um think tank norte-americano, a produção da Líbia pode ser dividida em duas partes: uma no oeste do país, próxima a Trípoli, onde Kadafi tem sua principal base de apoio; e outra na zona leste, dominada pela oposição, e concentrada na cidade de Benghazi.
BP/Stratfor/reprodução
Mapa da infrestrutura energética da Líbia
“Simplificando muito, isso significa que existem duas facções políticas no país, controlando cada uma parte da produção e da infraestrutura”, consideram os analistas de Stratfor. “No caso de uma guerra civil, cada parte teria uma fonte de renda”, o que poderia incentivar tentativas de sabotagem.
Ostracismo
Temendo por seus funcionários, grupos internacionais anunciaram a suspensão de suas atividades. É o caso da Wintershall, divisão de exploração de petróleo e gás da alemã Basf, que opera na Líbia desde 1958. Ela informou a retirada de 130 pessoas do país. A BP também anunciou que tinha suspendido preparativos para a exploração e que seus funcionários iriam retornar. A empresa britânica voltou à Líbia há apenas quatro anos, após a decisão dos países ocidentais de acabar com o ostracismo contra o regime de Kadafi. Em 2007, a BP assinou contrato de exploração de US$ 900 milhões com Trípoli, o maior já fechado pelo país.
A maior petrolífera na Líbia, a italiana Eni, também retirou todos seus funcionários considerados não essenciais, embora tenha assegurado que isso não vai afetar a produção. “As equipes estrangeiras são cruciais”, acrescenta Stratfor. Com apenas 6,5 milhões de habitantes, a Líbia não gerou a quantidade de engenheiros e administradores suficientes para lidar sozinha com sua produção.
Capacidade ociosa
Apesar das especulações, os mercados não deveriam ceder ao pânico, modera Nabuo Tanaka, chefe da AIE. Segundo ele, existem estoques estratégicos prontos para compensar qualquer pequena interrupção na produção, e a Opep está pronta para usar seus 6 milhões de barris ao dia para compensar a capacidade ociosa. A produção total de todos os países afetados pela agitação social (Tunísia, Iêmen, Egito, Líbia e Bahrein) não passa de 3,4% da oferta mundial.
O verdadeiro temor é de um contagio em direção de paises muito mais importantes para o mercado energético. É o caso do Irã, da Síria e da Argélia, que juntos, produzem 8% do petróleo mundial, e até a Arábia Saudita, com 12% da produção global.
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