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Discurso de Obama em Darwin, na Austrália. Com o respaldo da primeira-ministra Julia Gillard, presidente enviará 250 soldados à base no norte do país.
Há algo na agenda recente do presidente Barack Obama e da secretária de estado americana Hillary Clinton que resgata os tempos de bipolaridade da Guerra Fria. Entre os dias 14 e 18 de novembro os dois focaram-se em visitas à Austrália e aos tradicionais aliados chineses do sudeste asiático – Filipinas, Tailândia e Indonésia – deixando recados enfáticos e claros a Pequim.
Foram, ao total, 23 mil milhas aéreas em defesa da TPP (Parceria Trans-Pacífico), que enseja uma “desenvolvida, ampla e robusta liberalização” do mercado local, responsável por cerca de 40% dos fluxos comerciais do planeta.
Em 1946, intitulado Sinews of Peace (Os Nervos da Paz, em português), o discurso de Winston Churchill ao então presidente norte-americano Harry Truman elevava os EUA ao patamar de “auge do poder mundial”, colocando sua democracia em um “momento solene” e lançando como os passos seguintes à vitória aliada na 2ª Guerra Mundial a exportação de seus valores de “liberdade e progresso”.
No que tange a União Soviética, Churchill sinalizava o que dele se esperava – “uma sombra que recaía sobre a recente vitória iluminada”. “Ninguém sabe o que a Rússia Soviética e sua organização comunista internacional pretende fazer no futuro imediato”, disse. Não é mera coincidência que estas falas também seriam conhecidas como o “Discurso da Cortina de Ferro”.
Afirmar, assim, que a era de atritos entre Ocidente e Oriente está finda pode soar precipitação. A Cortina de Ferro parece não ter desaparecido, mas tão somente se deslocado mais a leste.
Corrida armamentista
Em Bali, na Indonésia, o presidente norte-americano classificou a região como “crítica para o crescimento econômico e para a segurança nacional”. Tão crítica que enviará, em 2012, 250 soldados da marinha para uma base militar em Darwin, na Austrália. A medida não apenas recebeu o endosso da primeira-ministra australiana Julia Gillard como também poderá intensificar-se, chegando ao envio de mais de 2500 oficiais.
O SIPRI (Instituto de Estudos da Paz de Estocolmo) estima em quase 78 bilhões de dólares o orçamento militar chinês, uma hipótese para o porquê de Obama se prontificar a transferir e atualizar 24 caças F-16 para a Força Aérea da Indonésia.
Um recado tão claro à China que se transforma em convite: o país será bem vindo ao grupo, mas desde que “jogue as regras do jogo”, isto é, “abra seu mercado a transnacionais”, “proteja a propriedade intelectual” e, principalmente, “flexibilize o câmbio”. Importante recordar que esta demanda foi feita pessoalmente por Obama ao presidente chinês Hu Jintao no último fórum da APEC (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico), realizado no Hawaii.
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Secretária de estado americana Hillary Clinton em conferência nas Filipinas. Viagem visou à integração de países do sudeste asiático ao modelo norte-americano de liberalização do mercado.
Câmbio
Alexandre Uehara, especialista em integração econômica asiática do GACInt (o Grupo de Análises da Conjuntura Internacional da USP), diz que a região é marcada por intensa e mútua falta de confiança: “há uma grande dependência entre esses países [do sudeste asiático] e a China, que possui grande poderio militar e influência econômica em expansão”. Sob essa perspectiva, o aviso contido no editorial do Global Times, o jornal oficial do Partido Comunista Chinês, faz algum sentido – “aquele que quiser ser o peão no jogo de xadrez dos EUA vai perder a oportunidade de se beneficiar da economia chinesa”, diz o artigo. Uehara vai além e acrescenta que essas são, inclusive, as razões pelas quais não há uma relação estável entre Washington e Pequim.
Fator de maior polêmica nesse que é o primeiro grande cenário de polarização estratégica desde o fim da Guerra Fria, o câmbio nem sempre foi motivo para apreensão. Uehara recorda que, quando o governo chinês passou a controlar o Yuan à revelia do mercado financeiro mundial, a decisão era bem vista, pois assegurava estabilidade a uma economia em crescimento. “Mas eles não podem manter indefinidamente essa rigidez cambial”, ressalva, “o ponto é que eles se flexibilizarão quando bem quiserem, sem que haja inteferência externa”.
Questão interna
Rubens Barbosa, embaixador brasileiro em Washington de 1999 a 2004, acredita que as movimentações do governo americano frente o sudeste asiático não significam grande coisa e confirmam-se como algo de teor mais simbólico, “nada além de um gesto”.
“Isso está relacionado a uma tentativa de Obama mostrar ‘força’ perante a opinião pública já visando à campanha das eleições presidenciais de 2012”, afirma. Em se tratando de algo imagético, o embaixador acredita que não há ameaça nenhuma à segurança: “no curto prazo nada ocorrerá. O que vai acontecer é apenas um pequeno aumento da presença norte-americana em mares onde ela já ocorre. A China não quer criar problemas agora”.
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Campanha da Benetton em apoio à Unhate Foundation criou fotomontagens com líderes divergentes se beijando.
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