Antes do encontro entre chefes de Estado da América do Sul, realizado nesta terça-feira (30/05) em Brasília, alguns mandatários manifestaram suas expectativas com relação ao evento, através das redes sociais ou de entrevistas para meios dos seus respectivos países.
O diário argentino Página/12 contou que o presidente desse país, Alberto Fernández, viajou com a intenção de conversar sobre o fortalecimento dos organismos regionais, especialmente no que diz respeito à recuperação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), entidade que tanto ele quanto o presidente anfitrião, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, declararam recentemente que pretender reativar.
“A Argentina está comprometida em aprofundar suas relações bilaterais, no marco do Mercosul e da Unasul, organismos essenciais para consolidar as democracias e alcançar a unidade latino-americana”, afirmou Fernández.
Em suas redes sociais, o mandatário argentino citou o ex-presidente do seu país, Néstor Kirchner [de quem ele foi ministro do Interior], para reforçar sua postura, mas defendendo uma fórmula diferente para consolidar os mecanismos de integração. “Como dizia Néstor, os velhos moldes se quebraram e os novos problemas requerem novas soluções”, comentou.
Já o presidente da Bolívia, Luis Arce, escreveu em sua conta de Twitter comentários sobre sua esperança de que o encontro, chamado por Lula de “retiro dos presidentes”, seja uma forma de inserção do seu país e da região em um novo cenário internacional.
“Viemos ao Brasil para reafirmar a unidade da Pátria Grande e fazer frente aos desafios de um novo mundo multipolar”, publicou o mandatário boliviano.
Após a reunião, Arce disse que “somos uma região com grande potencial e a complementariedade de nossas economias permite que busquemos a transição energética, tecnológica e digital, além de fomentar o comércio intrarregional, o investimento e a cooperação”.
Maduro e Petro
Em transmissão ao vivo do edifício do Itamaraty, sede do evento entre os presidentes, o canal estatal venezuelano VTV enfatizou que o presidente do seu país, Nicolás Maduro, foi o primeiro em aterrissar no Brasil para a reunião [na noite de domingo, 28/05] e também o primeiro em chegar ao local do “retiro”, na manhã desta terça.
Segundo a repórter Graia Casella, Maduro manifestou, pouco depois de chegar ao Itamaraty, que “esta é uma importante instância para retomar o caminho da autodeterminação dos povos, que foi interrompido por aqueles que queriam voltar ao passado e fazer o jogo dos que querem submeter a região aos interesses estrangeiros”.
Já o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, manifestou que “o panorama mundial é crítico. Sem dúvidas, a América Latina precisa estar unida, ser uma voz unificada, porque tem um grande potencial, tem em suas mãos, em seu próprio território, várias das soluções mais importantes à crise integral que a humanidade vive hoje. Esta reunião deve esclarecer esse papel”.
Uruguai destoa
Mas a proposta de recuperar a Unasul não agradou a todos os presentes. O presidente uruguaio Luis Lacalle Pou, que transmitiu seu discurso através de seu canal de YouTube, filmando do seu celular, disse que “devemos parar com essa tendência a criar organizações, e enfocar nas ações”.
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Presidentes sul-americanos se reuniram no Palácio do Itamaraty, em Brasília, em encontro convocado por Lula
“Temos que priorizar as ações e também revisar as nossas ações. Seguir no caminho no qual já avançamos em tantas coisas e desfazer o caminho que foi equivocado, porque também é desfazendo erros que se constroem as políticas nacionais e regionais”, acrescentou.
Outro presidente de direita, o equatoriano Guillermo Lasso, declarou que “a integração tem que servir para melhorar a vida dos cidadãos: sua saúde, sua segurança, sua educação, o nosso meio ambiente e outros temas essenciais. Esta cúpula é importante para o futuro da América do Sul”.
Além dos mandatários acima citados, também participaram do evento os presidentes Gabriel Boric (Chile), Irfaan Ali (Guiana), Abdo Benítez (Paraguai) e Chan Santokhi (Suriname). A peruana Dina Boluarte foi a única ausente, mas seu país foi representado por Alberto Otárola, chefe do Conselho de Ministros do Peru.
Discurso de Lula
Na abertura da reunião com seus homólogos, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou que “uma América do Sul forte, confiante e politicamente organizada amplia as possibilidades de afirmar, no plano internacional, uma verdadeira identidade latino-americana e caribenha”.
Com discurso focado na importância de relançar a Unasul, Lula lembrou que o organismo “foi efetivo como foro de solução de controvérsias entre países da região, notadamente na crise entre Colômbia e Equador e no conflito separatista boliviano”.
Em seguida, lamentou o abandono que a entidade sofreu: “deixamos que as ideologias nos dividissem e interrompessem o esforço da integração. Abandonamos canais de diálogo e mecanismos de cooperação e, com isso, todos perdemos”.
“Caros presidentes, se hoje damos os primeiros passos para retomar o diálogo enquanto região, o contexto que enfrentamos é ainda mais desafiador do que foi no passado (…) Nenhum país poderá enfrentar isoladamente as ameaças sistêmicas da atualidade. É apenas atuando unidos que conseguiremos superá-las”, acrescentou Lula.
Peru e Equador têm reunião paralela
Antes da reunião entre os presidentes, os representantes de Peru e Equador tiveram uma breve reunião bilateral, no qual abordaram temas relativos às crises políticas que ambos os países enfrentam na atualidade.
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, manifestou seu apoio ao governo peruano, que enfrente uma nova onda de manifestações, a terceira desde dezembro, pedindo novas eleições e a realização de um plebiscito para convocar uma nova assembleia constituinte no país, medidas que Lima se resiste em aceitar.
O Peru foi o único país que não foi representado por sua presidente no “retiro” convocado por Lula. A delegação peruana foi liderada pelo chefe do Conselho de Ministros, Alberto Otárola, que substituiu a mandatária Dina Boluarte.
Durante o encontro com Lasso, Otárola também expressou o apoio de Lima às polêmicas decisões tomadas pelo governo equatoriano há duas semanas, quando se acionou um mecanismo constitucional para dissolver a Assembleia Nacional do país e convocar novas eleições gerais [marcadas para o dia 20 de agosto], com o objetivo de interromper a tramitação de um processo de impeachment contra o mandatário.