Contrabando nuclear, poluição radioativa, exportação ilegal de urânio, precariedade das instalações atômicas e suborno acontecem livremente no coração do continente africano. É o que indicam mensagens secretas enviadas pela embaixada dos Estados Unidos na República Democrática do Congo para Washington em 2006. Os documentos foram divulgados neste domingo (19/12) pelo jornal espanhol El País, via Wikileaks, e estão publicados também no blog Operaleaks, que reúne a cobertura do Opera Mundi sobre os vazamentos.
Um dos despachos relata uma visita feita por quatro diplomatas norte-americanos ao Centro de Pesquisa Nuclear de Kinshasa, capital do Congo, em 27 de julho de 2009. O local abriga dois reatores nucleares, um de 1959 e o outro de 1972, que já deixaram de funcionar; 10,5 quilos de urânio não-enriquecido (U-238); 5,1 quilos de urânio enriquecido a 20% (U-235), 23 quilos de resíduos e 138 barras de combustível.
Reprodução
O despacho foi enviado da embaixada dos EUA em Kinshasa para o Departamento de Estado
Nesse ponto, o documento acrescenta uma observação: “Originalmente, havia 140 barras. Duas delas foram roubadas em 1998. As autoridades italianas recuperaram mais tarde com a máfia em Roma, que parecia tentar vender a compradores não-identificados do Oriente Médio. A outra nunca foi encontrada”.
Segundo a mensagem, a segurança do local é fraca: há apenas um muro de menos de dois metros de altura, sem arame ou cercas, cercando o local. Em alguns pontos, nem muro há. O lugar não possui iluminação à noite, nem câmeras de vídeo, detectores de presença ou alarmes. Há 21 vigilantes, sendo nove policiais e 12 seguranças particulares. No local trabalham 180 pessoas, como pesquisadores, técnicos e administradores com salário que varia entre 40 e 150 dólares por mês.
Outra visita, feita um ano e meio depois, mostra que nada mudou. O relatório conclui que “é fácil entrar no prédio e roubar barras de combustível ou resíduos nucleares com uma ferramenta que não precisa ser maior que um estilete”.
Os documentos registram também o desaparecimento de 40 contêineres “carregados de urânio ou de outro material radioativo”, procedentes de Kinshasa, que circulavam sem controle pela África. Na década de 1970, 50 desses contêineres foram enviados ao Congo, então Zaire. O material foi armazenado em vários lugares da capital, entre eles o palácio presidencial. A suspeita, segundo a embaixada, é de que soldados congoleses teriam cometido o roubo. Três dos 40 contêineres roubados foram interceptados em 2004, quando um sul-africano e um tanzaniano tentavam cruzar de caminhão a fronteira com a Zâmbia, no sul do país, tendo como destino a África do Sul.
Os 37 contêineres restantes foram vendidos a países como Uganda e Quênia por um valor estimado em 100 milhões de dólares. A embaixada ressaltava o fato de a radioatividade do material roubado ser “fraca”, apesar de ninguém ter se atrevido a abri-lo.
Poluição
Além da falta de controle sobre o material nuclear no Congo, os documentos denunciam também uma “gravíssima poluição radioativa” na província de Katanga, onde a radiação nas minas de urânio chega a alcançar até 179 vezes o nível aceitável de exposição para uma pessoa, segundo o AEIA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Nas mensagens, o embaixador menciona também o poder das companhias estrangeiras para “comprar jornalistas e políticos”, além de exploração ilegal de urânio.
Um despacho cita o caso da empresa belga EG Malta Forrest, que opera no Congo desde 1915 (quando o país ainda era colônia da Bélgica). Segundo a informação da embaixada, essa companhia explora minas de urânio, cobre e cobalto ilegalmente, corrompendo funcionários do governo. Depois, outras companhias compram as minas e enviam o material para o exterior.
Leia a íntegra deste e outros documentos no blog Operaleaks.
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