O presidente da China, Xi Jinping, deixou Moscou nesta quarta-feira (22/03) depois de encerrar uma visita de três dias à Rússia focada no fortalecimento dos laços com Vladimir Putin. A proposta chinesa de um plano de paz na Ucrânia não avançou. Os resultados concretos das conversas são sobretudo comerciais e de reforço da parceria estratégica no enfrentamento das tensões com o Ocidente.
O avião do líder chinês deixou o aeroporto Vnukovo de Moscou depois de Xi receber as últimas homenagens protocolares executadas por uma guarda de honra que tocou os hinos nacionais russo e chinês, cita a agência de notícias RIA Novosti. Funcionários do alto escalão do governo russo estiveram presentes para a decolagem.
Durante a visita, Vladimir Putin e Xi Jinping elogiaram na terça-feira (21/03) a entrada em uma “nova era” de seu relacionamento “especial” com o Ocidente, com o presidente russo apoiando cautelosamente o plano da China para resolver o conflito na Ucrânia, enquanto acusava Kiev de rejeitar a proposta.
Washington, que manifestou nas últimas semanas a preocupação de que a China pudesse fornecer armas à Rússia, expressou desconfiança em relação a uma suposta neutralidade de Pequim, que nunca condenou a invasão russa na Ucrânia. “Se a China quer desempenhar um papel construtivo”, disse um porta-voz da Casa Branca na terça-feira, “deveria instar a Rússia a encerrar a ofensiva na Ucrânia”.
Norte-americanos e europeus acreditam que um cessar-fogo neste momento só iria validar os ganhos territoriais de Moscou e dar mais tempo às tropas russas, desafiadas pela resiliência do Exército ucraniano, a preparar uma nova fase de sua ofensiva.
O governo da Ucrânia saudou o envolvimento diplomático de Pequim, mas ressaltou que a Rússia deve retirar suas tropas e respeitar a soberania e a integridade territorial do país independente desde 1991.
Kremlin/ Vladimir Astapkovich/ RIA Novosti
Após estar em Moscou, Xi convidou o líder russo para visitar a China neste ano
Na ausência de um avanço sobre o fim do conflito, o objetivo da cúpula foi, sobretudo, de demonstrar a força das relações entre a Rússia e a China, num contexto de tensões geopolíticas cada vez mais intensas. Xi qualificou a Rússia e a China como “duas grandes potências vizinhas”, “parceiras estratégicas” na esfera global, em oposição à ordem mundial instaurada no pós-guerra.
Em uma declaração conjunta com tonalidade dos tempos da Guerra Fria, os dois líderes criticaram o Ocidente com veemência, acusando os Estados Unidos de “minar” a segurança internacional para manter sua “superioridade militar”, e expressaram “preocupação” com a crescente presença da Otan na Ásia.
Taiwan condenou formalmente o trecho da declaração conjunta que afirma que a ilha é uma parte “inalienável” do território chinês. Para Taipei, Putin cedeu às exigências de Pequim, que “continua a veicular falsas declarações na cena internacional para denegrir e minar a soberania do nosso país”, indica uma nota do governo taiwanês.
Quebra de isolamento
A visita de Xi a Moscou representou um importante apoio a Putin, que é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) desde a semana passada pela suposta deportação de crianças ucranianas para a Rússia, um crime de guerra.
A visita do presidente chinês a Moscou ocorre em um momento em que Putin redireciona a economia russa maciçamente para a China, devido às sanções ocidentais desencadeadas pela ofensiva na Ucrânia. Na terça-feira, Putin anunciou que havia chegado a um acordo com Xi sobre a construção do gigantesco gasoduto Força da Sibéria 2, que permitirá à Rússia fornecer 50 bilhões de metros cúbicos adicionais de gás por ano à China.
Tratado como um pária pelo Ocidente desde o início do conflito na Ucrânia, Putin pode contar com Pequim para romper seu isolamento internacional. Xi o convidou a visitar a China neste ano.