Após o resultado negativo obtido pelo candidato ultraliberal Javier Milei no primeiro turno das eleições presidenciais neste domingo (22/10), seus partidários passaram a direcionar a maioria das críticas a uma figura em particular: a maquiadora e cosplayer Lilia Lemoine.
Militante do partido A Liberdade Avança, fundado por Milei há dois anos, Lemoine deu entrevistas durante a campanha que repercutiram fortemente dentro e fora da Argentina, ao dizer que criaria um projeto que permitiria aos homens negar a paternidade de seus filhos – situação que o movimento feminista chama de “aborto masculino” e que se trata de um problema real, dada a grande quantidade de crianças que não possuem o nome da figura paterna em suas certidões de nascimento, mesmo isso sendo considerado ilegal em muitos países.
Apesar de polêmica, a proposta serviu para que Lemoine fosse uma das 39 deputadas eleitas pelo partido ultraliberal neste domingo. A partir de dezembro, ela não será figura conhecida apenas em eventos geeks, onde costuma se destacar com diferentes fantasias de heroínas de filmes e desenhos animados famosos, mas também no Congresso Nacional da Argentina.
Porém, assessores próximos a Milei consideram que essa repercussão foi muito favorável a ela, mas ao mesmo tempo negativa para a candidatura presidencial do partido. Alguns a apontam como principal responsável pela derrota diante do governista Sergio Massa no primeiro turno.
Um dos que fez abertamente essa acusação é o youtuber Iñaki Gutiérrez, membro do grupo que desenha a estratégia de Milei nas redes sociais. Em entrevista ao diário Página/12, nesta segunda-feira (23/11), o assessor do candidato ultraliberal disse que “nosso partido é pró família, e a proposta dela só beneficiou a sua candidatura, e manchou a imagem do partido e do nosso candidato presidencial”.
“Nós temos a crítica ao aborto como eixo central do nosso programa. O projeto dela não ajudou em nada à nossa campanha, ainda mais na Argentina de hoje”, acrescentou Gutiérrez.
Segundo o projeto de Lemoine, uma mulher grávida passaria a ter um prazo de até 15 dias para avisar o pai do bebê sobre essa condição, para que ele possa decidir se quer assumir ou não a responsabilidade.
Lilia Lemoine fantasiada de Adora (identidade secreta da She-Ra); a partir de dezembro ela será deputada do Congresso Nacional argentino
Reação de Milei
O próprio Milei deu apenas uma declaração após a controvérsia gerada pela proposta de Lemoine, na qual tentou se distanciar da sua aliada – em um indicativo de que seu círculo mais próximo já tinha dados respeito ao impacto negativo do episódio em sua campanha.
“Nosso partido defende o princípio da liberdade, e cada candidato nosso tem a liberdade de plantear o que quiser, os liberais não são uma manada”, disse o presidenciável, buscando uma definição ambígua, na qual não disse se apoiava ou rechaçava a proposta de sua aliada, ao mesmo tempo em que tentava se desvincular dela.
Além disso, Lemoine não esteve ao lado de Milei no discurso que o extremista deu horas depois do anúncio dos resultados eleitorais, diferente do que aconteceu com a maioria dos novos parlamentares eleitos pelo partido A Liberdade Avança na Província de Buenos Aires e na Cidade de Buenos Aires.
Comparação com Zambelli
Essa reação da extrema direita argentina, tentando culpar a cosplayer pela derrota de Milei no primeiro turno é comparável com a de uma grande parte do bolsonarismo após o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, em 2022, quando a deputada Carla Zambelli (PL-SP) foi apontada como bode expiatório do fracasso de Jair Bolsonaro, que viu frustradas a sua tentativa de reeleição.
Segundo alguns assessores, a repercussão do vídeo em que a parlamentar persegue um homem negro com uma pistola pelas ruas de São Paulo, incidente ocorrido na véspera do segundo turno, teria sido decisivo para que o ex-presidente não conseguisse sua reeleição.
Com informações de Página/12.